quinta-feira, 12 de março de 2009

101 - Viagem ao Mapuá, 11º e ultimo dia


Quarta-Feira, 11 de março,

A exemplo de Santa Rita




Acordei bem cedo nesse dia, o alvorecer no Rio Taujuri é simplesmente lindo, por isso desejei fotografá-lo e guardar como lembrança.
Tomei café com alguns comunitários, aos poucos apareceram Paulo e Sr Periquitinho e depois frei Ronaldo.


Antes de nossa partida visitei a escola de ensino fundamental da comunidade, são muitas crianças estudando todas juntas, de primeira a quarta série. Isso é muito comum no interior do Marajó, praticamente toda comunidade tem somente um professor para todas as séries.


7horas e 20 minutos, saímos em direção a comunidade de Nossa Senhora da Conceição, mais uma pequena comunidade no Rio Aramã. Uma coisa que observamos ali é o grande número de pessoas com deficiência mental, isso se dá pela união de pessoas da mesma família, são primos e primas de primeiro grau tendo filhos e com isso trazendo as conseqüências. Não me lembro de visto um numero tão alto assim em outro lugar, proporcionalmente eu diria que esse número é alarmante.



Nessa manhã do último dia de nossa visita a essas comunidades do setor Mapuá o padre acordou pior ainda do que na véspera, mal conseguia falar e se limitou a atender a confissões e a fazer as partes principais da celebração, delegando maior parte a mim.
Foram 5 batizados e 4 crianças recebendo a Primeira Eucaristia.
O Evangelho do dia nos levava a refletir mais uma vez sobre a posição que desejamos ocupar, se desejamos o primeiro posto, que sejamos os servos de todos. Falei um pouco sobre a nossa responsabilidade de sermos a Igreja Católica nesse pedacinho de mundo que Deus nos deu para cuidar, que isso é uma grande responsabilidade para todos nós.

Almoçamos na casa do Sr Hermes, dirigente da comunidade, e por volta das 14 horas já seguíamos em direção a comunidade de Santa Rita do Matamatazinho, nosso ultimo compromisso nessa viagem.

Fomos recebidos com muita festa mais uma vez, os comunitários logo foram ao barco buscar a imagem da padroeira Sant’Ana com cânticos que honram a Mãe de Maria Santíssima.


Por volta das 15 horas já estávamos na pequena e bela capela dando as orientações da paróquia para as comunidades do interior, falando sobre dizimo, freqüência, batismo, crisma, casamento, Primeira Eucaristia, Sacrário nas capelas do interior, tudo o que nós fizemos na primeira comunidade, com o mesmo entusiasmo fizemos também na última., por sinal ambas dedicadas a Santa Rita de Cássia.
Santa Rita de Cássia que usei como modelo de fidelidade a Deus na pregação durante a celebração. Ela, que apesar de tudo que passou, não desistiu de Deus e se manteve fiel. Como ela, eu dizia ao povo, passaremos por muitas tribulações, seremos tentados a desistir de nossa missão, porém, ao nos mantermos fiéis a vontade de Deus, alcançaremos prêmio que nos é reservado na vida eterna.
Nessa tarde foram 2 casamentos e 7 batizados, inclusive se casou nesse dia o dirigente da comunidade.


Ao final da celebração, frei Ronaldo, quase sem voz, agradeceu a todos, falou do grande valor que foi fazer essa visita ao setor Mapuá, o crescimento que é para a comunidade e também para nós que visitamos.

Fomos convidados a jantar antes de nossa viagem de volta a Breves, mesmo que fosse dia claro já estávamos na barraca da comunidade bem servidos com cotia, galinha caipira, pato e açaí, que alias não faltou em nenhuma mesa nesse interior.


Passavam 10 minutos das 18 horas quando nosso barco, Santo Ezequiel Moreno deixou a comunidade seguindo o Rio Matamatazinho com destino a Breves. Cansados sim, mas felizes com a certeza do dever cumprido, esse era o sentimento de todos nós.

Um belo saldo foi o número dos sacramentos administrados, foram 7 casamentos, 29 pessoas recebendo a Primeira Eucaristia, 120 irmãos novos entrando no Corpo Místico de Cristo através das águas do batismo. Além de muita gente podendo receber a Eucaristia, e mais de 350 pessoas recebendo a graça do perdão de Deus através do sacramento da confissão.

Por volta das 22 horas o porão do barco estava cheio de água, a bomba não dava conta de jogar tanta água para fora, por cerca de 1 hora, eu e Paulo tiramos toda aquela água enquanto o Sr Periquitinho assumia o leme da embarcação.



Já eram 25 minutos do dia 12 de março quando avistamos as luzes da cidade de Breves, aportamos no posto São Benedito faltando 15 minutos para 1 hora da manhã e ali eu e frei Ronaldo desembarcamos. Sr Periquitinho preferiu ficar até o amanhecer e Paulo, como sempre, fica mesmo é tomando conta do Santo Ezequiel Moreno.


Final feliz, que Deus me permita participar de outras missões como essa.

100 - Viagem ao Mapuá, 10º dia

Terça-Feira, 10 de março,
Acabou a voz do padre

7 horas da manhã da terça-feira já seguíamos para o Rio Aramã, comunidade de São Sebastião. Já passamos por lá no dia de nossa chegada e havíamos parado no comércio de Sr Félix para tentar comprar uma junta, foi lá que ele nos cedeu o silicone para a vedação. Mais de uma semana se passou e lá estávamos nós, dessa vez para celebrar com a comunidade.
Há por lá uma grande serraria fechada, já são 4 meses sem nenhuma movimentação. Nessa região o IBAMA e a Policia Federal simplesmente fecharam todas as madeireiras, sem nenhum critério, sem procurar saber quem está regular ou irregular, acabando com o emprego na região, levando muitos a sair dali e procurar a cidade, aumentando a miséria que já é grande no Marajó.
O Sid, dirigente da comunidade nos falava que muitos atualmente vivem da produção de palmito nos terrenos onde pode haver a extração, mas que a economia afundou de vez em função do fechamento das madeireiras.
A esperança é o retorno das atividades que, segundo o IBAMA, seria ainda nesse mês de março de 2009. Assim esperamos, pois se a madeireira é regular, trabalha com o manejo, tem o replantio sendo cumprido, não pode simplesmente ser fechada a titulo de agradar a alguns ecologistas que pensam pouco na espécie humana e nas suas necessidades de sobrevivência. É muito bom preservar a floresta, mas é bom também preservar a dignidade humana.

A comunidade de São Sebastião do Aramã é o exemplo de organização no setor do Mapuá, apesar de seus poucos membros, 42 adultos e 15 crianças, é a mais bela capela, totalmente forrada, envernizada, totalmente iluminada, um altar bonito, com caixas de som, microfones, por fim, quase completa, apenas alguns detalhes para que esteja em condições de receber o sacrário.
Durante a Missa foram batizadas 4 crianças e outros 9 adolescentes receberam a Primeira Eucaristia.
Nesse dia a garganta do padre já não ajudava nada, e eu, com uma tosse contínua, também sofri um pouco para dar a palestra de orientação para os comunitários.

À tarde navegamos para a comunidade de São Raimundo Nonato, no Rio Taujuri Comunidade bem estruturada, tudo muito bonito, até os trapiches são bem feitos e ornamentam a orla do lugar.
Se a voz do padre tava ruim pela manhã, nessa tarde ela já quase não existia, uma boa parte do rito da celebração era eu quem ditava. Na pregação do evangelho pude falar um pouco da servidão, colocando Nossa Senhora como modelo perfeito de serva, já que aceitando ser a mãe do Senhor, não tomou para si nenhuma regalia, mas se pôs a caminho para servir uma prima que precisava de seus serviços. È bom falar sobre isso, especialmente porque há eleição de dirigentes em cada comunidade que visitamos, e em muitas delas o dirigente age como dono da comunidade e não como servo.
Foram 7 crianças batizadas nessa comunidade, não houve casamentos nem Primeira Eucaristia. Aliás, a comunidade passou um tempo sem catequese, uma professora havia assumido porem desistiu e ninguém assumiu. Chamamos a atenção para esse fato, se uma comunidade não tem catequese, demonstra o desinteresse em educar na fé as crianças. Eles acolheram bem e se comprometeram a retomar a catequese de imediato e começar a catequese de Crisma também.
Pernoitar ali era uma exigência já que o porto do nosso próximo destino não era adequado para atracar o Santo Ezequiel Moreno.

99 - Viagem ao Mapuá, 9º dia

Segunda-Feira, 9 de março,

Reabastecendo o espírito


Dia nublado, a roupa lavada não seca de jeito nenhum, se colocamos na parte superior do barco, daqui a pouco e vem a chuva e temos que correr para retirá-la. É bem difícil secar rouba em pouco espaço, sem sol e com mais três companheiros de viagem com a mesma necessidade.
9 horas da manhã a comunidade de Santa Rita do Japixáua já se reunia na sua barraca, a capela não esta pronta, as obras estão paradas e a situação se arrasta assim por 4 anos.
Durante a palestra também acabei por saber que no ultimo ano não teve catequese no local, é certo que a comunidade é pequena, são 9 famílias, mas tendo crianças na comunidade não se justifica a falta de catequese, isso demonstra o quanto a comunidade está desestruturada, e se não vierem mudanças, a ordem do Pároco é para que se feche a comunidade. Saímos dali com o compromisso de mudanças da parte dos dirigentes e dos comunitários.
A coordenação dessa parte do setor simplesmente não existe bem diferente quanto a outra área do setor, nessa o Sr Antonio Idoino cuida de orientar e mantém uma visita constante a cada comunidade, assim as comunidades são mais organizadas. Nessa parte do Rio Japixáua não há entendimento, as comunidades vivem isoladas, não à coordenação, por isso, Frei Ronaldo solicitou a Antonio Idoino para assumir a coordenação dessa área também, esperando que assim as coisas melhorem para todas as comunidades. Combinado com Sr Antonio que na quinta-feira, dia 12 ele o entregaria uma carta em Breves comunicando a todas as comunidades da área essa decisão.
Celebramos por volta das 11 horas, tivemos o batizado de 2 meninas e terminada a Missa fomos almoçar na casa do Valdenor, dirigente da comunidade.
Em seguida partimos para a comunidade Perpétuo Socorro, onde faríamos a visita da tarde.


Ainda não tinha visto uma comunidade tão alegre e festiva quanto essa do Perpétuo Socorro do Japixáua. Não era grande, porém foram muitas pistolas (rojões) para saudar a aproximação do Santo Ezequiel Moreno. Também cantavam musicas alegres de acolhida com palmas e instrumentos de percussão. Logo buscaram a imagem de Sant’Ana no barco e no mesmo ritmo já saudavam a padroeira com seu canto próprio. E assim foi por toda à tarde. Foi ótimo palestrar ali e também fazer a reflexão do evangelho durante a missa, o povo nos dava o entusiasmo para continuar.
Não é fácil depois de tantos dias praticamente repetindo a mensagem e com a garganta inflamada, manter o mesmo entusiasmo dos primeiros dias, porém é sempre importante lembrar que para quem nos recebe é o único dia, não tem mais dias, é a única chance no ano de receber o sacerdote, de celebrar uma Missa e de ouvir orientações da paróquia que quase nunca chegam aqui bem claras através de seus dirigentes.
Durante a Santa Missa foram batizadas 5 crianças, 3 receberam a Primeira Eucaristia.
Perpétuo Socorro do Japixáua foi como um posto para reabastecimento, assim podemos cumprir os outros dois dias de missão bem mais animados.
Depois do jantar pernoitamos por ali mesmo a fim de seguir para o Aramã na manhã seguinte.





98 - Viagem ao Mapuá, 8º dia

Domingo, 8 de março,

São José abandonado



Não foi nada boa a nossa primeira experiência no dia do Senhor, acordamos cedo e por volta da 7 horas já estávamos de saída, destino, comunidade São José do Limão, no Rio Limão do Japixáua. Mais de 1 hora navegando para alcançar nosso destino, paramos na casa de um dos membros, antes de chegar à capela, tínhamos a informação que a visita se daria ali já que a capela não estava em condições. Logo esse morador informou que não, que devíamos seguir para a capela, pois o dirigente lá se encontrava. Seguimos adiante e poucos minutos depois estávamos na capela de São José, totalmente abandonada, sem condições de se celebrar nesse lugar. Uma rixa entre comunitários e suas lideranças fez com que a comunidade sucumbisse.
Frei Ronaldo conversou com o dirigente, José Serrão, que expôs seu ponto de vista. Por fim o frei cancelou a visita e deu um prazo para que a comunidade se reestruturasse, se não isso não ocorrer, a comunidade será fechada.

Pelo que observei na viagem até a comunidade de São José, existem muitos moradores na região, será uma perda muito grande o fechamento dessa capela, mas da forma que caminha a comunidade, aliás, que não caminha a comunidade, parece ser a única solução. Não estão sequer se reunindo para celebrar, não se mobilizaram para a visita, não há catequese para as crianças, não há um acordo sobre a arrecadação do dízimo. Uma daquelas brigas pelo poder que atinge qualquer camada da nossa sociedade e por aqui também existe. Domingo pela manhã não celebramos.
Com a folga imprevista, faríamos nosso almoço também no improviso, de repente ganhamos um piquenique em plena selva amazônica.

Nosso almoço não foi um banquete, um macarrão com sardinha que eu preparei e uns ovos de galinha caipira cozidos, preparados pelo Sr Periquitinho.


Por volta das 14 horas caiu uma tempestade como há muito não via em Breves, foi mais de 1 hora de chuva forte, relâmpagos e trovoadas de assustar, isso até atrasou nossa partida para a comunidade Santo André do Japixáua.
Mesmo sem terminar a chuva, mas agora já mais suave, partimos no curso do Rio Japixáua e em poucos minutos já estávamos na comunidade. Bem pequena a comunidade, porém bem entusiasmada, são apenas 10 famílias, uma simplicidade que nos faz apaixonar.
Sr Adamor é um dos comunitários e desde que começamos a visita foi o que mais perguntou, aliás, essa é uma coisa que muito sentia falta nas comunidades que visitamos, perguntas. Elas nos facilitam o dialogo com o povo, pois nos direciona exatamente naquilo que eles consideram mais importante como informação. Ele perguntou sobre o significado da quarta-feira de cinzas, sobre o jejum, sobre o respeito à semana santa que lhe foi ensinado por sua mãe. Outros comunitários também fizeram perguntas e uma que rendeu um bom papo foi sobre as cores que usamos na liturgia, foi bom para que eu pudesse explicá-los um pouco sobre a própria liturgia, seus tempos e significados.
Frei Ronaldo presidiu celebração e fez uma bela homilia falando sobre ao Temor de Deus, explicando esse amor incondicional que devemos ter a Deus como Abraão teve ao aceitar entregar em sacrifício seu filho Isaac.
Não houve batismos, casamentos ou Primeira Eucaristia nessa comunidade, mesmo assim vi que a comunidade é bem organizada, apesar de a freqüência baixa dos comunitários ter ido uma reclamação constante. Talvez a pouca motivação se dê pelas grandes distâncias, demos como sugestão a possibilidade de realizarem visitas aos membros que estão ausentes, como forma de trazê-los de volta ao convívio da comunidade.
Depois do jantar navegamos para a comunidade de santa Rita. A visita a essa comunidade havia sido cancelada e os seus membros se juntariam com a comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, mas houve mudanças nos planos e pela manhã celebraríamos ali mesmo.
Pernoitamos por ali, cancelada a folga de segunda-feira de manhã, sobrou para Paulo fazer os reparos, sozinho, no Santo Ezequiel Moreno. Havia uma entrada de água no porão que precisava de calafetagem urgente para não oferecer risco a embarcação. De momento o que se podia fazer era ligar a bomba para retirar a água do fundo do barco.

97 - Viagem ao Mapuá, 7º dia

Sábado, 7 de março,

Mais uma Graça



7 horas da manhã, o motor do santo Ezequiel moreno já estava ligado, apesar de estarmos na Boca do Mapuá, anda faltava uma comunidade naquela área, era preciso pegar um braço do Mapuá-Mirim para visitar a comunidade de Nossa Senhora de Nazaré, essa é a última comunidade sob a coordenação do Antonio. Comunidade pequena, 12 famílias, a capela está em construção, coberta com telhas coloniais, mas ainda sem as paredes. Conversando com Paulo, um comunitário, ele nos explicava como vão construir a capela, com certeza vai ficar bela, esperamos que logo se torne realidade esse sonho. Reencontrei Bruna, um a menina linda de 8 anos que havia conhecido na visita a São Sebastião no dia anterior, ela estava com Socorro, sua mãe e veio acompanhar Antonio nesse último instante de contato conosco.
Foram 6 batizados nessa comunidade, entre esses batizados 2 mulheres adultas, uma de 51 anos e outra de 47 anos, isso é muito bom para que a comunidade veja que nunca é tarde para se tornar membro do corpo místico de Cristo.
Por volta das 12 horas já almoçávamos na casa de um dos comunitários, logo sairíamos do Rio Mapuá e entraríamos no Rio Aramã.

Seguiram de carona conosco Antonio, Socorro e Bruna, que ficaram em sua comunidade, São Sebastião, entramos na Boca do Mapuá e chegamos ao Aramã, agora era percorrer um bom trajeto para chegar à comunidade de São Benedito, ali já nos esperava um povo alegre e cantante. Nós que somos de locais privilegiados, onde nossa Igreja tem muitos padres e temos missas diárias, não temos a noção do quanto aguardam essa visita do padre o povo ribeirinho, é apenas uma vez no ano, portanto, é um privilégio para eles participarem desse momento de festa.

Mais uma comunidade pequena, apenas 10 famílias, pessoas muito simples e de muita fé, como por exemplo, dona Graça, uma senhora que aniversariava nesse dia e que pediu desculpas por não terem vindos todos de sua casa. Ela explicou que era difícil para todos virem porque só há uma pequena embarcação, que eles chamam “casquinho” e a distância da casa dela para a capela é 1 hora e meia remando. Sua simplicidade chegava a nos comover quando ela falava.
Para mim é sempre um momento de conversão quando me deparo com pessoas como ela, penso sempre em nosso comodismo, como vemos dificuldade em tudo para estar na Casa de Deus, e ela, na sua ingenuidade, ainda nos pede desculpas pelos seus familiares ausentes.

Durante a Missa tivemos 6 batizados de crianças e a Palavra de Deus nos brindava nesse dia com o convite a amar aquele que nos odeia, como é bom saber que nós somos chamados a sermos santos como Deus é Santo, mesmo que seja difícil de se alcançar, o nosso desejo pela santidade deve ser constante e é bom ver exemplos de humildade como o de Dona Graça, isso nos faz mais humanos e mais próximos do divino.

Pernoitamos no porto da comunidade, deixamos para partir pela manhã do domingo, o Dia do Senhor nos brindaria com outras experiências.

96 - Viagem ao Mapuá, 6º dia

Sexta-Feira, 6 de março,


Mapuá,

sua beleza reflete a beleza de Deus.


6 horas da manhã saímos da Vila Amélia em direção a Bom Jesus do Mapuá, não havia muita gente quando chegamos, aos poucos foram se juntando ao grupo. A comunidade nos parece um pouco desorganizada, desde sua estrutura física onde faltam janelas e portas, até sua liderança que parece pouco ativa.
Frei Ronaldo teve pouca paciência no inicio com a igreja vazia e logo foi atender as confissões, me deixando dar as instruções para a comunidade. Não demorei muito já que a comunidade não faz perguntas e participa pouco. Sr Periquitinho falou sobre as funções dos membros da diretoria da comunidade, em seguida foi realizada a eleição.
Durante a Missa tivemos 12 crianças batizadas e 4 que receberam a Primeira Eucaristia.
Em todas as comunidades que temos batismo, sempre temos muitos Raimundos e Raimundas, Beneditos e Beneditas, Marias de Nazaré e Santanas, esses nomes se repetem insistentemente, mas alguns nomes são bem exóticos, criativos e sem que agente compreenda como foi dado um nome desse a criança, por exemplo, Juriscleidson, Julho ou Mielsima, é de dar pena, mas é sempre criativo o paraense ao dar nome a seus filhos..
Por volta das 11 horas a visita já estava encerrada, logo seguiríamos para o Mapuá Mirim, antes, porém almoçamos na casa do dirigente, Dionorte.

15 horas começamos a visita à comunidade de São Sebastião do Mapuá-Mirim, o lugar é daqueles de paisagem de cartão postal, logo em frente à capela temos a boca do Mapuá, lugar onde o Rio Mapuá se encontra com o Rio Aramã, simplesmente lindo. Num quadro da escola havia uma inscrição, “Mapuá, lugar para se viver, se divertir e ser feliz”, só de contemplar a beleza da reserva florestal a nossa frente já se percebe a mão de Deus agindo nesse lugar. Também na junção dos rios é nítida os traços da arte de Deus na natureza tão bela.

A comunidade é pequena, uma das menores da visita, são apenas 13 famílias, mas muito bonita e organizada, pessoas acolhedoras. Parabéns a Carlão, dirigente da comunidade e para Antonio, coordenador da área e membro da comunidade.
Na celebração na comunidade de São Sebastião foram realizados 4 batizados, inclusive de adolescentes. Também tivemos 1 casamento, de Cléia e Benedito.
A Palavra de Deus nos falava de como podemos perder a graça se não nos mantivermos fiéis a Ele. Que devemos reconciliar-nos com nossos irmãos antes de entregarmos a oferta no altar do Senhor. Aproveitei o momento de reflexão da palavra para falar de como Deus perdoa todas as nossas faltas, menos a blasfêmia contra o Espírito Santo, e como nós somos tentados a cada instante a negar nossa fé, negar nosso batismo em nossa Igreja para seguir falsos pastores.
Na capela de São Sebastião eu pude conhecer alguns dos irmãos de nossa amiga Lucinete, de São José Operário, seu Irmão Naíde, suas irmãzinhas Miriam e Fátima, além de Bruna, sua prima. É bom ir fazendo novos amigos por onde passamos.

Mais uma vez fomos bem servidos no jantar, logo em seguida nos recolhemos ao barco, pernoitamos ali nessa noite para seguir viagem somente no sábado para a próxima comunidade.

95 - Viagem ao Mapuá, 5º dia

Quinta-Feira, 5 de março,

Maria das Graças,
uma menina cheia de graça.


Amanheceu no Mapuá sem chuva dessa vez, foi possível lavar algumas roupas e colocá-la para secar no alto do barco.
Tomamos café com a comunidade que tem essa prática do café e almoço comunitário.
São Benedito do Mapuá não é uma comunidade grande, são 27 famílias apenas, mas nessa viagem percebemos que é a comunidade melhor estruturada fisicamente. Tem uma capela nova e um dirigente interessado em fazer uma estrutura bonita com bancos, oratório, mesa do altar e da palavra bem bonitas. Marcelino, o dirigente, é um rapaz novo e com bastante animo para construir.
Iniciamos nossas atividades por volta das 8 horas e 30 minutos e logo após a saudação o padre foi atender confissões e eu fiz uma palestra sobre as orientações de organização das capelas do interior, enfatizando as novidades de nossa paróquia nesse ano de 2009 que é a Crisma para as capelas do interior, bem como a introdução do sacrário nas capelas que tiverem condições de receber o Cristo Eucarístico.

Porém, nessa manhã, a maior graça que eu tive foi a de conhecer uma menina chamada Maria das graças, ela tem uma deficiência mental e mal consegue falar, ouve bem, mas não consegue pronunciar bem as palavras. A mãe dela veio nos procurar, pois a menina deseja fazer Primeira Eucaristia e não era bem acolhida por causa de sua deficiência. Que alegria para essa menina foi quando a mãe me apresentou a ela. Ouvinte assídua do rádio, ela já me conhecia bem, sabe quem é a Virtes, o Ray Batista e outros locutores da rádio. Para Maria das Graças cada um desses da rádio é alguém muito importante, pois faz companhia a ela nas madrugadas que passa acordada, segundo a sua mãe, ela acorda às 2 horas da manhã e liga o rádio, seu único amigo.
Frei Ronaldo autorizou a Maria das Graças de receber a Eucaristia, reconheceu sua limitação, de que ela não tem consciência do que é pecado e por isso não teria nem como se confessar, como ela deseja receber o Corpo de Cristo porque vê os outros recebendo, não seria justo impedi-la.
Com apenas 1 batismo durante a missa, de uma menina chamada Pâmela, a celebração não foi demorada. Na homilia o padre falou sobre a oração que tem poder diante de Deus, a oração do simples e sincero como foi a rainha Ester pedindo por seu povo prostrada diante do Senhor.
Terminada a celebração, preparamo-nos para o almoço que, como o café da manhã, seria comunitário.

Seguimos rio abaixo, continuamos no Mapuá, dessa vez a comunidade visitada seria Nossa Senhora das Graças, na vila Amélia.
Como sempre, fomos recebidos com festa. A capela é uma beleza, novinha, acolhedora e das mais organizadas desta visita. São 27 famílias freqüentadoras da comunidade e ali realizamos 11 batizados. Com certeza essa será uma das primeiras capelas do interior a receber o sacrário, pela sua estrutura física e pela capacidade de seus dirigentes. A pregação do dia era muito boa de fazer, exatamente porque o evangelho do dia trazia para nós o ensinamento de que devemos pedir com insistência a Deus que tudo nos será dado, pois se até nós que somos maus damos o que nossos filhos pedem quanto mais Deus que é bom dará o que nos é necessário.
Terminada a celebração, retornamos para o Santo Ezequiel Moreno, na certeza do dever cumprido. Por volta das 19horas e 30 minutos fomos jantar na casa do dirigente da comunidade, Antonio Borges.
Depois do jantar e um bom papo com os novos amigos, resolvemos dormir por ali mesmo, já que a próxima comunidade estava a mais de 1 hora de viagem e a noite estava sem luar, o que dificultaria a navegação.

94 - Viagem ao Mapuá , 4º dia

Quarta-Feira, 4 de março,

Era preciso empurrar uma ilha

6 horas da manhã, Paulo ligou o motor do Santo Ezequiel Moreno, destino, Cantagalo.
Jorge dormiu em casa, mas já estava conosco novamente por saber da dificuldade que teríamos ao atravessar aquele estreito de Bernaldina, e realmente foi bem difícil, muitos galhos já haviam amontoado novamente naquele lugar e foi preciso literalmente empurrar uma ilha com o barco, havia certa tensão, já que poderíamos danificar as palhetas e então ficaríamos a deriva, força par um lado e para outro, em cerca de dez minutos o problema foi resolvido e seguimos o nosso caminho.
Passava das 8 horas da manhã quando chegamos a comunidade de São Sebastião do Cantagalo, o dirigente, Marcelino, acompanhado de alguns comunitários nos receberam calorosamente. Essa era uma comunidade muito pobre, são 62 membros apenas e nem um fio para conduzir energia para a capela lá havia, foi preciso usar a extensão do santo Ezequiel moreno e manter o gerador do barco ligado para ter energia por lá.
Quem apareceu para celebrar conosco foi o Sr Orlando, aquele mesmo que nos acolheu em sua casa na comunidade de Santa Rita, vieram com ele alguns membros daquela comunidade numa pequena embarcação.
Como era de se esperar, não foram muitos a se confessar e apenas 1 menino receberia a Primeira Eucaristia, porém, o numero dos batizados era maior do que na comunidade que antecedeu 12 crianças, algumas até já com 6 ou 7 anos idade, isso demonstra que a comunidade vem levando a sério essa preparação para a inclusão na igreja de seus filhos e filhas.

Terminada a missa, frei Ronaldo permaneceu para assinar os documentos e a prestação de contas e já nos preparávamos para o almoço e para seguir com destino a comunidade Nossa Senhora do perpétuo Socorro.

Com muita chuva no caminho chegamos à comunidade quase às 15 horas, tomamos um café oferecido por uma das famílias da comunidade e logo em seguida já estávamos na igreja, frei Ronaldo atendendo as confissões, eu dando as instruções sobre procedimentos para as comunidades do interior e Sr periquitinho juntamente com o vice-dirigente da comunidade fazendo o procedimento da eleição.

Por volta das 17 horas celebramos a Santa Missa e durante a celebração tivemos o batismo de um menino chamado Adriano. Como ficou combinado com o frei, pela manhã ele faria a homilia e na celebração da tarde eu me encarregaria da pregação na Missa. O evangelho do dia nos falava do sinal de Jonas, esse seria o único para sinal para aquela geração má. Na pregação falei um pouco sobre seguir a Jesus em busca da vida eterna e não em busca de milagres ou sinais mágicos, se buscamos somente isso e encontramos, já temos o nosso pagamento final. Para nós, muito melhor é desejar as coisas da vida futura, a vida eterna que Deus tem para nós. Ao final da missa, Sr periquitinho agradeceu a acolhida da comunidade, Antonio, coordenador da área que abrange 6 comunidades, falou sobre a importância da visita do padre e de que a comunidade deve aproveitar ao máximo esse dia para ouvir os ensinamentos de Deus e da Igreja. Por fim, pedi que a comunidade rezasse pelos padres da paróquia ali representados por frei Ronaldo e também pelas vocações, já que sentimos a necessidade de mais padres para a Prelazia do Marajó, especialmente de mais padres marajoaras. Rezamos o ângelus e terminamos a nossa visita.
O jantar foi servido na casa de dona Joana, que como todos os outros, fez de tudo para nos agradar. Isso é uma constante nos ribeirinhos, ele vão sempre servir aos visitantes o melhor que a comunidade poder oferecer. Antonio se juntou a nós nessa etapa da viagem.
Nessa noite mesmo seguimos viagem para a comunidade de São Benedito do Mapuá, cerca de 40 minutos dali, assim poderíamos começar logo cedo nossas atividades por lá.

93 - Viagem ao Mapuá, 3º dia

Terça-Feira, 3 de março,

Evangelizando sobre as águas negras

Muita névoa no Lago do Jacaré na manhã da terça-feira, típica paisagem dos vales, apesar de aqui não ter montes e colinas, parece que as árvores retêm a neblina.
Tomamos café na casa de um comunitário e em seguida frei Ronaldo começou atender mais confissões.
Nós procedemos à eleição da comunidade onde foram eleitos pessoas para as mais diversas funções, desde dirigente, passado por leitores e comentarista, tesoureiro e zelador.
Por volta das 9 horas tivemos o inicio da Santa Missa, foram 3 casamentos, 3 crianças recebendo a Primeira Eucaristia e 26 batizados.
Uma das coisas que notei nessas comunidades que vistamos muitas casas sem paredes, ou com apenas uma das paredes. Realmente é um tempo de muita pobreza nessa região, Falta quase de tudo para os ribeirinhos, não lhes falta alimento porque a terra e o rio fornecem, mas o emprego, a educação, saúde e segurança pública são carências que a cada dia mais remete essa população ribeirinha a margem da sociedade, tenho a impressão de viver em outro mundo aqui, o descaso governamental é imenso e não dá sinais de melhora em nenhum dos aspectos mencionados.
11 horas e já estávamos liberados para seguir, descendo o lago nossas visitas nesse dia são nas comunidades de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Santa Maria, a primeira como experiência, a segunda para realizar a visita pastoral.
Almoçamos na casa de Dona Nazaré e logo em seguida fomos para a comunidade Perpétuo Socorro do Lago Canaticum, pouco depois das 12 horas éramos recebidos com pistolas (rojões) e cânticos.
Essa visita era só para inaugurar oficialmente a comunidade nascente se ela estivesse dentro das normas da paróquia, com catequese, equipe de dirigente formada, o dizimo organizado, a preparação para o batismo estabelecida e todos os demais detalhes que fizessem valer a integração dela na paróquia.
Frei Ronaldo saudou aos comunitários presentes, deu as orientações e rezou com a comunidade abençoando a capela, as águas e os objetos apresentados para serem abençoados.
Uma coisa que sempre me faz desejar levar a palavra de Deus através das ondas dos rádios e ver a receptividade dos ribeirinhos ao nosso trabalho. Nós que tínhamos um pequeno programa de meia hora, às 6 horas da manhã todas as sextas-feiras, sempre somos reconhecidos por eles e isso aconteceu diversas vezes no Mapuá. Especialmente quero lembrar nessa data de Maria, uma catequista do Perpétuo Socorro que falou com grande alegria que estava feliz por me conhecer, que sempre nos ouvia e rezava conosco através da rádio. Perguntou pela Virtes, gostava do sotaque dela. Essa é mais uma demonstração de carinho das tantas que recebemos por onde vamos ou quando nos vêem em Breves.

Terminada essa pequena visita, seguimos para a Comunidade Santa Maria, que nos recebeu com muitas crianças, pistolas e banda de música com bateria e tudo que tem direito. Uma tremenda festa.
Como oficialmente a visita começaria às 15 horas, houve um tempo para que o padre jogasse futebol com os membros da comunidade, perdeu o jogo, mas tava feliz com a brincadeira com os comunitários.

Começamos as atividades na igreja pontualmente às 15 horas, frei Ronaldo saudou o povo e eu fui dar as instruções para a comunidade. Em seguida Givanildo, dirigente da comunidade juntamente com Jorge, coordenador do setor fizeram a eleição da comunidade.
Chovia forte e durante toda a tarde foi assim, uma chuva incessante que não desanimou o povo de Santa Maria. A Igreja lotou, foram muitas confissões, foram 9 batizados e 2 meninos receberam a Primeira Eucaristia. Eu fiz a pregação também na Missa onde as leituras foram maravilhosas, onde o Profeta Isaias dizia que Deus envia sua palavra, mas ela não volta a Ele sem antes germinar e dar frutos e o Evangelista São Mateus nos dá o delicioso ensinamento do Mestre a seus discípulos da oração perfeita, o Pai Nosso.
Pernoitamos ali, seria difícil atravessar novamente aquele estreito onde já havíamos sofrido, era preferível fazê-lo pela manhã com a ajuda dos comunitários.
Depois do jantar nos recolhemos ao barco, mesmo eu fosse ainda cedo já que o dia havia sido bastante cansativo.