quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

84 - Partilha da Eliriane sobre a participação no FSM 2009


Projeto Amazônia - FORUM SOCIAL MUNDIAL
MEMÓRIA DA PARTICIPAÇÃO NO FORUM SOCIAL MUNDIAL


Período:
25 a 31 de janeiro de 2008.


Objetivo:

Explicitar as atividades desenvolvidas com os jovens do Ministério de Artes do município de Breves/PA durante o Fórum Social Mundial quanto a sua preparação e apresentação do Projeto Amazônia.

Participantes:

- Rondônia: Eliriane dos Anjos da Silva Albuquerque, Jakeline Cordeiro e Marcelo Barroso;

- Pará/Belém: Sr. Manoel de Oliveira (Totó), Simone, Jose, Angelina, Amália, Bruno, Júnior, Jojoca.

- Breves: Adriana, Daniele, Rafael, Marcos, Nilcimar, Jailson, Aline, Santana, Elton, Dhessyca, Julielton, Elionay, Rodrigo.
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1. Breve descrição dos jovens:

Todos são jovens que têm um potencial de missão extraordinário. São humildes, obedientes e participaram de todos os momentos, especialmente das missas, intensamente, até mesmo quando muito cansados. No último dia, apenas uma pessoa presente no Seminário não conseguiu ir à missa.

Os meninos que realmente são do Ministério de Artes me chamaram a atenção para o respeito com as suas irmãs, tratando-as com amor, carinho sem malícia.

a. Adriana: é a coordenadora. Tem a liderança e o respeito dos demais irmãos. Sabe discernir os momentos em que pode deixar o grupo mais a vontade e aqueles em que deve chamar à responsabilidade. Sua expressividade nas coreografias é realmente para louvar a Deus.

b. Aline: tranqüila, calma, organizada, determinada e muito observadora.
c. Daniele: tem muita expressividade nas coreografias e é boa ouvinte. Fala pouco e precisa de um pouco de incentivo para melhor se expressar oralmente.

d. Elionay: Não faz parte do Ministério de Artes. Ajudou na sonoplastia. É muito comunicativa e gosta de sugerir. Indicamos a ela que procure a RCC na cidade onde reside atualmente, Macapá.

e. Elton: Também não faz parte do Ministério de Artes. Tem larga experiência com coreografias e teatro. É uma ovelha a ser trazida para o rebanho. Penso que seja quem mais cresceu com a convivência no grupo, a participação nas missas e nos momentos de oração.

f. Jailson: tímido e muito respeitador com relação às meninas. Sabe ouvir e dar sugestões.
g. Jéssica: é bem expressiva em tudo o que faz e também sabe se comunicar para expressar suas idéias.



h. Julielton: é o mais expressivo no grupo masculino das coreografias. É muito religioso e fez adorações algumas vezes sozinho na capela. Tem grande potencial de missionário.

i. Marcos: é muito sensível e gosta de expressar suas idéias, impressões de maneira oral. Também é um líder em potencial.

j. Nilce: sua expressividade nas coreografias chama bastante a atenção. Também é uma líder. Gosta de expressar suas opiniões, participar das decisões respeitando as decisões coletivas e idéias diferentes às suas. O talento de sua voz também é algo colocado a serviço de Deus. Certamente, será uma das locutoras da Rádio comprada.

l. Rafael: muito tímido mas participativo. Precisa de trabalho específico para libertar-se do medo de se expressar usando o corpo dançando, cantando.

m. Rodrigo: não posso expressar uma idéia detalhada sobre ele porque ficou conosco apenas uma noite e o dia da apresentação. Percebi, porém, que exerce liderança no grupo e o fato de não ter ficado conosco no Seminário acarretou uma certa insegurança nos ensaios pelo vácuo deixado nas coreografias.

n. Santana: muito tímida, mas consegue expressar-se oralmente. Precisa de um trabalho específico, assim como com Rafael, para libertar a expressividade de seu corpo nas coreografias, especialmente em relação ao seu olhar que muitas vezes não está concentrado no tema, na música.

2. Avaliação da organização e da apresentação:

Falas que merecem destaque:

- Adriana: “Não somos um grupo de dança qualquer. Somos um grupo de dança de Deus!!”.

- Julielton: “Fomos muito bem acolhidos, nos colocaram num lugar com boa estrutura. A responsabilidade dos membros do Ministério de Artes de Breves quis responder ao que Deus chamava. Isso aumentou diante da acolhida e da estrutura oferecida em Marituba e Belém ao nós!”

2.1 Aspectos positivos:

- humildade, harmonia, responsabilidade, dedicação, empenho máximo dos jovens do Ministério de Artes;

- acolhida em Belém pelos membros da RCC e do MUR;

- importância do pessoal de apoio na hora da apresentação: Simone ajudou na troca de figurinos e sua presença foi determinante para animar o grupo a partir da primeira apresentação. Isso exigiu dela a humildade de servir “nos bastidores”;

- a apresentação e as coreografias em si conseguiram sensibilizar o público para o tema (Projeto Amazônia: missão Marajó);

- embora não tenha sido possível ensaiar bastante antes da chegada em Belém, lá foi mais intenso quando todos nós passamos a nos consagrar a Deus e nos conscientizarmos que estávamos em missão em Seu nome.

2.2 Aspectos a melhorar:

- sincronização dos passos das coreografias;

- faltaram alguns detalhes de palco e sonoplastia (música na hora certa, ter um CD ou pen drive de reserva, troca de figurinos em momentos certos e mais rapidamente, organização dos adereços por ordem de apresentação e em local determinado para agilizar as trocas) que podem ser sanados com algumas oficinas de teatro. João Júnior havia se disponibilizado de retornar a Breves e ministrar outras oficinas para ajudar a aperfeiçoar as performances;

- falta ainda um pouco de expressividade facial de dois membros já indicados em avaliações diretas com eles. Isso também podem ser melhor aperfeiçoado com oficinas;

- aspectos que interferiram na apresentação: espaço restrito para os movimentos, falta de espaço adequado para troca dos figurinos, dificuldade para localização no espaço pela troca de palco e falta de ensaio no local específico da apresentação;

- criar um grupo de apoio às apresentações nos bastidores: sonoplastia, figurino, cenário, maquiagem etc.;

- alguns membros do Ministério de Artes precisam imbuir-se do sentimento de grupo, de que a apresentação é coletiva e não individual;

- cabe aos membros ativos do Ministério de Artes atraírem os jovens que participam esporadicamente das coreografias e outros que podem ser evangelizados;

- houve dificuldade de comunicação entre os missionários para a organização em diferentes momentos antes da chegada dos jovens a Belém e antes da apresentação. Os missionários de Belém que nos acolheram somente foram informados da apresentação do Projeto no FSM uma semana antes do evento e, mesmo um de seus membros tendo participado de uma das reuniões de dezembro, os demais não tinham a programação proposta;

- não houve divulgação na grande mídia antes da participação no evento pelo fato dos missionários não terem sido comunicados com antecedência.
Alguns dos missionários de Belém relataram que se sentiram esquecidos antes do evento por não terem participado das decisões, mas especialmente por não terem sido informados sobre a apresentação.
Eu cheguei à conclusão de esse sentimento que muitas vezes também me tomou por falta de comunicação, é muito freqüente nos próprios missionários que residem em Breves. Eles estão distantes geograficamente de nós e têm que lutar com a sua fé para poderem continuar a missão. Falta muitos materiais de apoio, mas falta também um pouco mais de nós, de cada um que faz parte da executiva, do MUR, da RCC, da Igreja Católica. Não podemos deixar que esses missionários desanimem e se sintam enfraquecidos, pois a luta é árdua e exige muito de cada que está a frente dela.
É um trabalho perigoso, delicado e de muita doação!

3. Encaminhamentos e sugestões:

1. A lista assinada de pessoas que querem conhecer e apoiar o projeto deve ser ou incluída numa lista de discussão do PA se já existir ou ser criada outra forma para os manter informados como potenciais divulgadores e apoiadores (até financeiros) do projeto.

2. Divulgar mais o potencial do Ministério de Artes de Breves em outros eventos fora do município para somar isso aos esforços de atrair outros jovens para o Projeto.

3. É necessário definir um plano de ação urgente e avaliar o projeto escrito para delinear atividades e estratégias a fim de criar uma estrutura de apoio melhor para os missionários: computador com internet, veículo (carro e lancha), pessoas que possam ministrar oficinas de artes, geração de renda etc.

4. Penso (perdoem-me) que os papéis precisam ser melhor definidos dentro da executiva e do grupo de missionários porque algumas decisões demoram muito tempo para serem tomadas. Exemplo: minha passagem foi comprada muito próximo da data e o preço estava o dobro do que foi cotado quinze dias antes. Além disso, quase não conseguíamos comprá-la por falta de vaga.

5. O planejamento de atividades e ações é fundamental. O Espírito Santo age. Não temos dúvida disso. Todavia, precisamos fazer nossa parte, aquilo que nos cabe.

6. Alguém da coordenação precisa solicitar à ONG Raízes e Movimentos que filmou a última coreografia a filmagem em DVD do documentário ou a filmagem master: marcelaalice@gmail.com – Fone: 21-9384-9450.

4. Descrição das atividades:

Cheguei em Belém dia 25 de janeiro e fui recebida por Jakeline Cordeiro (Rondônia) que já estava lá encaminhando algumas situações há alguns dias. Junto com Jake estava Jojoca, Jose e Simone, a qual nos acolheu em sua residência após participarmos de missa na Igreja de Santa Rita de Cássia, em Ananindeua (município próximo a Belém).

Na segunda-feira pela manhã (26 de janeiro), Simone entrou em contato com várias pessoas que trabalham com van e microonibus para fazermos cotação. Porém não contratamos qualquer um deles por acharmos o valor muito alto (entre 250 e 400 reais).
Jake e eu fomos à UFRA realizar as inscrições no FSM de quem faltava e tentar falar com a coordenação do evento sobre o local de apresentação do Projeto, haja vista a Jake já tê-lo visitado e verificado que suas dimensões não eram adequadas para as coreografias e as discussões que estavam em pauta. Andamos durante o dia inteiro nos campus da UFRA e UFPA e não conseguimos encontrar a pessoa responsável para efetivarmos a mudança de sala.
Na residência de Simone, o Sr. Totó nos encontrou e fez novos telefonemas para alguns responsáveis dos veículos já contactados pela manhã. Jake e eu decidimos, então, contratar a van mais barata, apesar de ainda com valor alto (R$ 250,00 – duzentos e cinco reais) e viável por ser de propriedade de uma senhora que reside próximo ao Seminário.
Após deixarmos as dezenas de bolsas do evento e nossa bagagem num táxi contratado por Jose, fomos ao supermercado fazer compras de alimentação para levar ao Seminário da Prelazia de Marajó, Nossa Senhora Mãe da Igreja, localizado no município de Marituba, aproximadamente 30Km de Belém.
Jake e eu pernoitamos no Seminário e no dia seguinte (27 de janeiro), após conversarmos com a senhora responsável pela alimentação no local, tomamos o microônibus contratado, apanhamos o Sr. Totó e fomos receber os doze jovens que foram representar Breves no FSM. Foi aí que descobrimos que as crianças tão bem mencionadas por Beto não eram tão crianças e sim adolescentes e jovens crescidinhos. Com o passar dos dias descobrimos mais: que seus corações eram de crianças, crianças de Deus, com a sensibilidade, o amor e a unidade divina presentes no grupo, e com a responsabilidade de adultos na fé.

Após as saudações iniciais, entramos no veículo e oramos consagrando a cidade, o evento e especialmente a estada e a participação do Projeto no Fórum. Aliás, o que mais fizemos foi o que Jake e eu já costumamos fazer nessas situações, que é orar consagrando tudo o que fazemos ao Senhor, entregando a Ele as dificuldades, os encaminhamentos e as necessidades, agradecendo sempre o que Ele nos dá e nos mostra.
Ao chegarmos no Seminário, oramos consagrando o ambiente (Jake e eu já o tínhamos feito antes mas foi bom fazer com que os jovens vissem o lugar como espaço de Deus) mostrando suas dependências e organização. Falamos sobre a capela onde seriam celebradas as missas e que ficaria aberta ininterruptamente para quem quisesse orar a qualquer hora.

Como o grupo tinha enfrentado 14 horas de barco para chegar a Belém, após o almoço quase todos foram descansar. Após um lanche, fizeram uma rápida apresentação entre nós (Jake, eu, Bruno, Júlio, Gleice e os jovens) e o primeiro ensaio para avaliarmos as performances, embora ainda com uma coreografia incompleta. Logo em seguida, participamos da missa como boas-vindas, jantamos e o grupo fez novos ensaios com novas sugestões, sempre mostrando humildade em ouvir e discernir sobre quais sugestões aceitar. Até mesmo os dois Padres presentes no local (o Reitor do Seminário, Padre Manoel, e um Frei visitante) colocaram suas sugestões.

Nessa noite tivemos a visita de Simone, Jose, Angelina, Amália, Bruno e Júnior. Aproveitamos para fazer uma reunião a fim de fazermos os encaminhamentos necessários para a estrutura da apresentação, discutindo a pauta proposta por mim. Todo o equipamento de som, a bandeira e uma faixa do MUR foram solicitadas, bem como uma divulgação maior nos meios de comunicação de massa, pois as pessoas ligadas a RCC de alguma forma já sabiam, inclusive em Santarém, cidade paraense onde passei o mês de janeiro com minha família. Antes de eu ir divulgar nesta cidade, as lideranças já sabiam que o Projeto Amazônia teria uma apresentação. Mas nosso alvo não eram os “nossos” e sim aqueles que passariam pelo FSM.
Após a reunião fizemos um momento de oração intensa com os jovens.
No dias que se seguiram tivemos a graça de participarmos da missa todas as manhãs, tendo o Corpo de Cristo como nosso primeiro alimento diário, já que íamos à missa em jejum. Foram inúmeros ensaios, autocríticas e muito esforço, dedicação e empenho dos jovens. As coreografias eram presenciadas por pessoas diferentes e por Jake e eu, que sempre ficávamos emocionadas com as letras das músicas escolhidas e a performance do Ministério. Nos inícios e encerramentos de cada sessão de ensaio sempre tínhamos a oração para consagrarmos e agradecermos o que Deus nos providenciara e ainda providenciaria para a glorificação de Seu nome entre nós e para aqueles que presenciariam nossa apresentação na UFPA.

O interessante é que nos momentos de oração com os jovens antes ou após os ensaios as pessoas da RCC que visitavam o Seminário e oravam conosco confirmavam o que nós havíamos falado no primeiro momento com eles, já repetindo também o que os missionários no Marajó (Beto, Eloísa, Virtes) e o Frei Ronaldo (orientador espiritual do grupo) sempre conversam com eles: que seus corpos na dança e em qualquer manifestação artística que possam organizar e realizar, são instrumentos para a Glória de Deus, para o Louvor ao Nosso Senhor e templos do Espírito Santo. Isso tornou as coreografias ainda mais lindas: o que chamava a atenção na apresentação não eram os belos corpos e sim a sincronia e a mensagem estampadas nos movimentos e nas faces.
Na quarta-feira, dia 28 de janeiro, véspera da apresentação, levamos os jovens para a UFRA onde precisávamos encontrar o Bispo do Marajó D. Azcona para confirmarmos sua presença em nossa apresentação. Ele estava participando de uma discussão na tenda temática da Irmã Dorothy. Essa foi a única apresentação além da nossa que conseguimos participar. Ao final de sua apresentação fui até ele com Jake e Marcelo (que havia chegado poucas horas antes em Belém e já estava na “ativa”) e fiquei um pouco apreensiva quando ele afirmou que tentaria ir falar no dia seguinte em nossa programação mas não teria como confirmar realmente porque o horário chocava com outra atividade em que ele participaria. Entreguei a programação escrita nas mãos dele e deixei o número de telefone da Jake para Ele nos confirmar sua presença.

Fomos para a UFPA e os jovens puderam nos confirmar que a sala reserva para a apresentação não comportaria nem mesmo uma mesa de discussão. Todos ficamos atordoados e não conseguimos decidir o que fazer. Como um dos jovens (Rafael) tinha se perdido ao entrarmos no microônibus sob forte chuva na saída da UFRA, tivemos que voltar para onde Angelina e Rodrigo (de Breves) tido ido tentar encontrá-lo. Por essa razão enfrentamos aproximadamente duas horas de engarrafamento entre as duas universidades. Aproveitei para solicitar que rezássemos mais uma vez o terço (rezado em cada saída do ônibus) clamando a Deus que nos mostrasse o que deveríamos fazer em nossa apresentação, onde a realizaríamos e como faríamos para chamar a atenção das pessoas para o projeto que antes de ser nosso, era DELE.

Os jovens chegaram e foram aos ensaios, pois um deles não ficou com o grupo no Seminário. Estava no acampamento da juventude na UFRA e isso exigiu que a coreografia fosse passada a ele com as alterações feitas nos últimos dias.
Fui a capela clamei a Deus que nos orientasse e tomasse tudo em suas mãos, que tirasse de nós o medo de decepcionar aqueles jovens que viajaram de tão longe e mostraram tanta dedicação e empenho. Também pedi perdão a Ele pelo pouco que fiz por limitações de comunicação, dos problemas de minha família que me impediram de ir a Belém mais cedo, pela timidez que me impede algumas vezes de falar na mídia no Nome Dele. Enfim, por não ter me colocado mais a Seu serviço nos dias anteriores, pelo mal estar que senti ao deixar minha família doente em Santarém. Pedi perdão até mesmo se fiz a inscrição e toda animação para a participação no FSM entendendo de maneira equivocada alguma palavra que Ele nos deu antes e durante o evento.
Nessa noite, os jovens (agora em número de treze) foram dormir mais ou menos uma hora da manhã organizando os materiais, adereços e figurinos da apresentação.
Na manhã seguinte, já durante a missa Deus nos confirmou que iríamos lá como cordeiros em cova de leões mas que não deveríamos desanimar porque Ele estava conosco. Isso nos recobrou as forças, porque também os jovens ao verem os milhões de pessoas no evento no dia anterior tinha percebido a dimensão do evento no qual nós os tínhamos envolvido.
Fomos para a UFPA em oração e enfrentamos aproximadamente três horas de trânsito. Falei para eles o que tinha pensado como nova proposta de apresentação: a seqüência das coreografias e o plano B que seria colocado em ação caso o D. Azcona não pudesse chegar a tempo de falar.

Logo depois que chegamos a UFPA, o João Júnior (agostiniano) e o Frei Ronaldo chegaram para nos ajudar. Júnior conseguiu maquiar em tempo recorde o grupo para a primeira coreografia. Conversei com Frei Ronaldo e Raimundo Lobato (morador de Breves e que estava no FSM enviado por um sindicato, porém estava participando mais das atividades da igreja) para explicarem o contexto do Arquipélago de Marajó e do município de Breves se D. Azcona não pudesse comparecer.

Esperamos o Bispo e atrasamos o início em aproximadamente 40 minutos. Com todo o equipamento ligado e o grupo pronto para se apresentar, eu iniciei falando do que se tratava a nossa apresentação e a razão de estarmos realizando-a naquele pátio: na inscrição havíamos solicitado um espaço de, no mínimo, 150 metros quadrados e um palco. Como não nos responderam via e-mail e não pudemos encontrar a coordenação estávamos tomando posse daquele espaço porque estávamos num evento que tinha como uma de suas diretrizes a democracia. Enquanto eu fazia uma rápida explicação da nossa programação D. Azcona chegou para nosso alívio. Todos o receberam com aplausos e chamamos a primeira coreografia. Nesse momento não tive como conter as lágrimas por ver mais uma vez que Deus tinha providenciado um local para a Glorificação de seu nome com uma estrutura que me lembrou sua chegada em carne ao mundo. Muitos o esperavam chegar como um rei terreno, mas Ele quis que seu Filho Jesus nascesse em um estábulo, em um lugar humilde para se aproximar dos humildes que realmente precisavam Dele. Além disso, lembrei as vezes que nos GOUs procuramos o melhor lugar para nossos encontros e pregações e geralmente o lugar que nos sobra é um corredor, um pátio movimentado ou qualquer outro que não nos atrai muito.

Ficamos num pátio do bloco M do Prédio Profissional da UFPA. É um lugar em que as pessoas transitam para chegar aos diversos outros blocos e salas. Então, Deus alcançou um público que variou entre 100 e 200 pessoas, das quais 50 assinaram uma lista que passamos solicitando apoio. Eram angolanos, mocambiquenhos, ingleses, horlandeses, franceses, latinos e muitos brasileiros.
A programação contou com três coreografias: uma de abertura (Anjos das ruas, que mostrou a realidade das pessoas abandonadas física e espiritualmente em várias dimensões da vida), a segunda (Olhos no Espelho, que retrata a batalha espiritual, especialmente dos jovens, entre os prazeres do mundo, a solidão, a tristeza que isso traz, e a felicidade verdadeira de viver na companhia de Deus) e a terceira (Encantos Paraenses, na qual o grupo miscigenou a cultura paraense, a marajoara, o papel da igreja católica e alegria de ser católico em meio a tantos desafios, problemas, dificuldades e injustiças no Marajó e em Breves). Aquelas “crianças” pareciam profissionais bailarinos e em todas as apresentações o público que transitava ali parava estupefato com tanta energia e com mensagens tão profundas.

Após a primeira coreografia, apresentei D. Azcona como bispo e defensor da justiça em Marajó, fato pelo qual está sofrendo represálias e ameaças de morte. Ele falou de características gerais do Arquipélago, da exploração sexual infantil, do tráfico de crianças e mulheres. Todos os crimes estão interligados e são coordenados por um grupo organizado que leva as crianças e mulheres até Belém, depois Macapá (capital do Amapá), Guiana Francesa, Suriname e europa. Além de D. Azcona há 02 padres e aproximadamente 200 leigos paraenses ameaçados de morte de motivos correlacionados.
Seguiu-se a segunda coreografia e depois dela a fala de Raimundo Lobato que contou como é viver em Breves enfrentando desemprego, altos índices de corrupção na administração pública, desvios de verbas que deveriam ser empregadas em benefício da população, falta de perspectivas dos jovens no tocante à educação, emprego, renda, espiritualidade.
Logo em seguida chamei Angelina que falou especificamente do Projeto Amazônia. Quando seu nome foi apontado para falar sobre o Projeto na terça feira anterior ela disse que não conseguiria. Então, como nosso horário já estava avançando, o D. Azcona tinha falado por quase uma hora e não queríamos cansar muito o público foi dado ao Lobato e a ela 05 minutos com tolerância de 10. Ela se empolgou tanto e falou como uma pregadora experiente durante aproximadamente meia hora. Ela somente contou como iniciou a prostituição infantil, cujos detalhes nos contou seu pai, o Sr. Totó no dia posterior, como conclamou os presentes a serem voluntários no Projeto, a participarem de outras atividades católicas em apoio às populações mais necessitadas e “até” a verem o que Espírito Santo podia operar em suas vidas!! Todos dos bastidores ficamos surpresos com a coragem dela ao falar. Isso realmente foi obra de Deus. Penso que Ele colocou palavras em sua boca que ela, por si mesma, não teria coragem de proclamar.

Após sua fala chamamos a última coreografia (Encantos Paraenses) agradecendo a presença de todos e solicitando desculpas às salas que estavam com outras atividades e foram interrompidas ou sofreram interferência por nosso som. Como houve a providência de Deus para prolongar o tempo da música da coreografia, sugeri antes ao Ministério que após os “passos” ensaiados eles convidassem as pessoas para dançar com eles, envolvendo de maneira mais direta os presentes. Foi um grande show com direito a várias reprises.
Quando o grupo já estava trocando o figurino para encerrarmos com a bênção de D. Azcona, dois representantes da ONG Raízes e Movimentos (Rio de Janeiro) que estavam gravando um documentário solicitaram-me uma nova apresentação do grupo para ser filmada, pois tinham chegado no final. O Ministério se preparou e foi filmado chamando novamente público.
No final da fala de D. Azcona que havia dito que ficaria para responder questões no final da programação, mas quando viu a primeira coreografia ficou estupefato e ao encerrar a programação afirmou que não tinha mais nada a falar porque as coreografias já diziam tudo, expressavam o que as palavras não conseguiriam.
Concluímos tudo com uma oração, tendo o Bispo D. Azcona dando-nos a bênção solene. Na saída fizemos um GOU em pleno movimento de passeatas e pessoas que, apesar das várias manifestações diferentes no evento, ainda puderam se surpreender conosco. Algumas até pararam para participar. Agradecemos muito a Deus e nos reabastecemos de fé.

Não almoçamos, mas fomos lanchar na casa de uma irmã do Sr. Totó que, juntamente, com a esposa dele nos prepararam também o almoço no dia posterior.

À noite fizemos a avaliação dos preparativos e da apresentação. Estavam presentes: Jake, Marcelo, Eliriane, Angelina, Simone, Jose e 10 dos jovens de Breves (Adriana, Daniele, Rafael, Marcos, Nilcimar, Jailson, Aline, Santana, Dhessyca, Julielton, Elionay). Os pontos avaliados e os comentários foram colocados no item 2.

No último dia, sexta-feira 30 de janeiro, levamos os jovens para conhecer a Basílica de Nazaré e o Museu Emilio Goeldi do centro. Depois visitamos alguns estandes da UFPA e finalmente almoçamos novamente na residência da irmã do Sr. Totó. Foram momentos de descontração e relaxamento. Antes do almoço recebemos a notícia da doação de 160 mil reais para a compra da Rádio em Breves, o que encheu a todos nós de muita emoção e agradecimento a Deus por Ele ser tão fiel e responder tão rapidamente às nossas súplicas e necessidades. Oramos agradecendo tamanho amor por nós, apesar de todas as nossas falhas.
Após o almoço, o Sr. Totó nos contou em detalhes toda a sua história de vida para compreender também a história de Breves, assim como para os jovens do Ministério de Artes compreenderem a missão colocada em suas mãos.



Os jovens embarcaram à noite, acompanhados de Jake e Marcelo.

Eu viajei para Porto Velho no domingo.

Eliriane dos Anjos (69-8404-1917)
Mestra em Educação/ UFSC

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