segunda-feira, 8 de setembro de 2008

54 - Breve análise do linguajar brevense

No mundo fleumático das perplexões inexoráveis tende sempre a prevalecer dentro de um célere e inócuo sufixo a maneira de estabelecer indubitavelmente as relações entre as balbúrdias e os incólumes de um pormenor.
(texto nada popular)

Segunda-Feira, 08 de setembro de 2008. Dia da Natividade de Nossa Senhora.


Cada povo tem seus hábitos, costumes e linguajar próprio. Tenho a consciência de que somos um país continental, falamos a mesma língua portuguesa no Rio grande do Sul ou no Acre, no Espírito Santo ou Mato Grosso do Sul. Poucos países no mundo têm essa benção de se comunicar em um único idioma.

Contudo, como é interessante observar o regionalismo e as expressões lingüísticas características de cada lugar.

Nós, que aqui chegamos do sudeste e sul do país, trouxemos nossos sotaques e por vezes até brincamos uns com os outros sobre isso.
Mas em Breves existem expressões que ainda não vi em outro lugar por onde estive. Tento explicá-las, mas garanto que elas têm mais aplicações do que eu descrevi, só convivendo com um brevense autêntico para compreender. Seguem algumas delas:


Égua” – Essa não é utilizada só em Breves, mas pelo paraense em geral. É uma interjeição de espanto, mas nunca é utilizado isoladamente, sempre vem seguido de uma nova sugestão:

– Não senhor, não temos cupuaçu, não está na época.
– Égua, então me traga uma tigela de açaí com tapioca.


*****

"Pior” –você está contando algo para seu interlocutor, ele, na intenção de confirmar falaria “é verdade”, em alguns casos falaria “pior que é”, então o brevense reduziu para “Pior”. Algumas frases ficam simplesmente terríveis:

–Veja como meu filho está lindo.
–Pior.

–a festa de Sant’Ana estava linda, não acha?
–Pior.


*****


Praticamente” – Essa é típica dos ribeirinhos. “Praticamente” é utilizado nas respostas, geralmente inicia-se a frase com essa palavra. Interessante que “praticamente” cabe em qualquer frase, eu conversei com um sujeito que a usou três vezes na mesma frase. É praticamente impressionante.

– O que você compreendeu desse evangelho?
– Praticamente Jesus queria nos dizer que praticamente só chegaremos ao paraíso se a gente se converter e crer no evangelho. Praticamente é isso que Ele nos ensina.

*****


Anima” – Essa é uma expressão bem legal, eu e Elô já aderimos ao seu uso. É fácil sua compreensão. Basicamente quer dizer, “você topa fazer tal coisa?” “Você concorda em ir at é tal lugar comigo?“ Interessante notar que a resposta nunca é “animo”, é sempre sim ou vamos lá, ou qualquer outra coisa, menos “animo”.

– anima ir á missa hoje?
–vamos.

– anima participar do mutirão conosco?
– égua!!!! To fora.


*****

Aqui em Breves também não falta a evolução das palavras, como “Pior que é” evoluiu sendo reduzido para a expressão “Pior”, também palavras mudaram por completo para dizer a mesma coisa.

Dizem que uma gíria comum aqui em Breves era “ Filé”, se uma coisa era muito boa, era “ Filé”, se uma mulher era muito bonita era “ Filé”, se um show agradou era “ Filé”. De tanto filé que teve, a coisa se tornou “Chefe”. Deve ser pelo sentido gastronômico da gíria, desejaram homenagear o “chef” de algum restaurante.

– Como foi a inauguração do estádio?
– Foi chefe.

– Veja como é bonita aquela moça.
– É chefe.

Muito estranho, mas é isso mesmo.


*****


Para terminar essa pequena aula sobre o linguajar peculiar brevense, a melhor de todas: - "Mas Quando?"

-Mas quaaaaando?

Não, não se trata de uma pergunta, é uma expressão utilizada a qualquer momento, dentro de qualquer frase que não quer dizer absolutamente nada.

Mas, é necessário que se afine a voz ao utilizar a expressão, isso mesmo, há uma mudança de tonalidade. Todos falam, alguns exageram e a expressão fica enorme “mas quaaaaaaaaaaaaaaando?” Essa expressão precisava estar gravada para que vocês a entendessem bem, vou tentar colocá-la dentro de algumas frases aqui, mas não creio que se possa compreender sua profundidade.

– Vamos capinar o quintal, você passou a manhã inteira sem fazer nada.
– Mas quaaaaando?

– Você estudou o texto que lhe passamos?
– Mas quaaaaando?

– Obrigado por me ajudar a fazer o trabalho.
– Mas quaaaando?


*****


É isso ai meus caros, para me despedir deixo uma mensagem para vocês refletirem:

Anima vir cumprir um tempo de missão em Breves?
Égua, pior.
Praticamente é para isso que Jesus nos chama a renunciar tudo e segui-lo, é chefe.
Mas quaaaaaando?”.
(de minha autoria, lamentável)

Um comentário:

Diário de Clara disse...

OI Beto

Ficou muito bacaninha o texto. Gostei de conhecer um pouco mais da dialeto brevense.

Abraços

Silvia