domingo, 17 de agosto de 2008

49 - Uma visão sobre Breves




"Renuncie aos desejos e encontrará o que o seu coração deseja"

(São João da Cruz)



Domingo, 17 de Agosto de 2008. Dia do Senhor e dia que a Santa Igreja comemora a Assunção de Nossa Senhora.
Antes de chegar pela primeira vez a Breves, no final do mês de Abril de 2008, eu tinha a impressão de ser um lugar onde
faltava tudo. Essa era a impressão que as pessoas que aqui estiveram me passaram. Porém, não é nada disso.
Hoje faz um mês que cheguei para cumprir meu tempo de missão nessa cidade e faço um pequeno relato de minha visão sobre Breves e sua gente.

Breves é uma cidade de porte médio, tem uma população superior a 90 mil habitantes no município, sendo mais de 50 mil habitantes na região urbana e cerca de 40 mil habitantes nas regiões ribeirinhas.
É chamada “Capital da Ilhas” aqui no Arquipélago do Marajó, não é pra menos, todos os municípios próximos parecem depender de Breves.
Alguns amigos que vieram aqui antes ou estão aqui agora comigo estranham um pouco a região portuári
a, uma rua que chamam de “beira” por fazer margem ao rio. Quem vive numa cidade portuária como Vitória não estranharia, pois sabe bem como se dão as coisas nessas áreas. Ali estão todas as docas onde descem mercadorias das mais diversas espécies, tudo aqui chega de barco ou navio. Isso mesmo, aqui também ancora navios enormes, para quem é da minha região e não tem idéia das dimensões dos rios amazônicos eu diria que em alguns trechos eles parecem mesmo o mar, e são centenas de rios e “furos” que os barqueiros navegam aqui com a maior tranqüilidade e mesmo que não tenham placas de sinalização como em nossas estradas, eles não se perdem. Pois é, aqui os rios são ruas que se percorrem lentamente para chegar o destino.
Chegar a uma comunidade ribeirinha em alguns casos se leva 15, 20 horas, sem mesmo sair do município de Breves, algo que os incomoda no principio, mas depois se habitua, e todas as distâncias são contadas por horas de navegação, levando-se sempre em conta a maré. Chegar a Breves vindo de Belém pode-se levar menos de 10 horas, ou mais de 13 horas, conforme a maré ou o barco que você está, um navio só de passageiros ou uma balsa que transporta até container.


***


Na cidade de Breves tem algumas coisas bem interessantes, um delas é o trânsito. Aqui tem muitas bicicletas, muitas motos, muitos carros, muitos carrinhos de madeira utilizados pelos carregadores do cais para transportar mercadorias dos barcos, e também tem alguns carros de boi. Aliás, não se vê cavalos aqui, somente bois. Dizem que lá na estrada tem umas fazendas que tem cavalos, mas eu não vi um cavalo sequer até hoje.
Aqui no centro da cidade, se você parar no cruzamento da avenida Rio Branco com a rua Dr. Assis, que é a rua onde moramos, você vai realmente achar que acontecerá um acidente a qualquer instante, pois nos parece que só há uma lei de trânsito, “SIGA EM FRENTE”, ninguém pára, pedestres, ciclistas, motociclistas, motoristas, carroceiros. Ninguém para, apenas seguem e nada acontece. A avenida rio Branco também protagoniza cenas bizarras no trânsito que em qualquer outra cidade do mesmo porte seria visto como absurdo, mas aqui parece normal. Carros e motos trafegam na contramão de direção, de faróis apagados, estacionam em qualquer lugar. Não há lei. Aliás, para motociclistas a lei ainda é muito mais branda, digo isso porque só no visual se percebe que pelo menos 70% das motos aqui não tem placas, são guiadas por qualquer pessoa, de qualquer idade. Ninguém usa capacete, nunca vi um capacete nessa cidade, e sobre as motos viajam famílias inteiras, 4, 5, 6 pessoas, crianças penduradas no braço da mãe ou do pai, sentadas sobre o tanque de combustível da moto e que você percebe que acham aquilo tudo muito normal, tanto elas quanto qualquer cidadão brevense, até a policia. Não há nenhuma lei que seja cumprida pelo menos n
o trânsito. O único lugar que já vi uma blitz foi em frente ao quartel do Tiro de Guerra, lá parece que a blitz é permanente, então é bem simples quem está irregular não pega aquela estrada e tudo bem.
Um ponto que considero positivo aqui em Breves é o seu povo, muito simples e muito acolhedor. Até hoje pude ter contato com pessoas maravilhosas que em momento nenhum me excluem de nada. Fui diversas vezes convidado por eles para tomar parte naquilo que faziam, mesmo grupos que iriam cantar na igreja, seja na missa do dia dos pais ou na quinta feira de adoração, me convidaram para cantar uma determinada musica que eu pedi para incluir no programa do dia. Realmente me fizeram sentir em casa desde o dia que aqui cheguei.

Freis, casais, jovens, crianças, são pessoas que realmente nos recebem de forma bem acolhedora.

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Com relação ao meu trabalho de formação, pude perceber a sede que tem esse povo. São pessoas, em sua maioria, com muita vontade de fazer as coisas acontecerem, porém lhes falta a devida formação. Creio que a igreja foi relapsa algumas vezes em deixar de dar essa formação, porém o atual pároco, frei Ronaldo, tem muita vontade de instruir e nos dá as ferramentas necessárias para que isso aconteça.


Essa semana se inicia, dia 19, a formação para liturgia, onde 40 pessoas da região do centro (Matriz de Sant’Ana e da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro) estudarão desde noções gerais da bíblia, gramática, noções gerais de liturgia, história da liturgia e expressão corporal. Há uma grande motivação por parte do povo e os membros das comunidades da região urbana de Breves já esperam também que seja dada essa formação para eles, e será logo em seguida.

Para concluir essa visão sobre Breves e sua gente, quero apenas dizer que é gratificante estar aqui. Desejo poder merecer continuar aqui por uma longa temporada e contribuir com a igreja local e toda essa gente que não sabe o bem que me faz. Quero apenas poder retribuir dignamente todo o carinho recebido.

Que Deus abençoe a todos.





"Como somos devedores da bondade divina!"

(Pe. Pio de Pietrelcina)

2 comentários:

Marcelo Barroso disse...

Beto. Muito bom e esclarecedor seu diário missionário. Lindo mesmo. Nos dá uma boa visao do que é ser missionário e verdadeiro cristão. Que Deus abençoe a todos, estamos unidos em oração... Paz Marcelo

Marcelo Barroso disse...

Beto. Muito bom e esclarecedor seu diário missionário. Lindo mesmo. Nos dá uma boa visao do que é ser missionário e verdadeiro cristão. Que Deus abençoe a todos, estamos unidos em oração... Paz Marcelo