segunda-feira, 4 de maio de 2009

103 - Um ano de Missão Marajó

Em Julho de 2007 eu estava assistindo a TV Canção Nova, sem prestar muita atenção naquele congresso da RCC até que aparecesse um homem que me chamou atenção. Eu não o conhecia, nunca havia ouvido falar nele, porém suas palavras pesaram no meu coração a ponto de eu dizer a um amigo que ali estava comigo, “Um dia eu vou trabalhar com esse homem”. Esse homem era Dom José Luis Azcona Hermoso, bispo da Prelazia do Marajó. Ele nos convidava a evangelizar sobre as águas do Marajó.

Em outubro do mesmo ano eu reencontrei Camilla, uma jovem de minha paróquia Sagrada Família em Jardim Camburi, Vitória, Espírito Santo. Eu havia perguntado por ela alguns dias antes a seu namorado, Pedro, e ele me falava que ela estava fazendo um curso de missiologia em Belém, Pará. Ao conversar com ela perguntei sobre o tal curso e ela me disse que fazia parte do Projeto Amazônia da RCC que pretendia enviar missionários para a esta região do país em resposta a Campanha da Fraternidade “Vida e Missão nesse chão”.
Até então nada havia me chamado muito a atenção, foi então que ela citou o Marajó e Dom Azcona. Percebendo o meu interesse ela me apresentou o tal projeto e eu disse que queria participar. Na semana seguinte eu já fazia parte de um grupo na internet que estava em formação para a Missão Marajó.
Em janeiro de 2008, participei do I REFORMI (Retiro de formação de missionários) na cidade de Brasília, e junto com outros três candidatos, Virtes, Eloisa e Digão, fui indicado para fazer parte da primeira casa de missão da RCC do Brasil.
Em 26 de Abril estávamos em Breves, participando do II REFORMI, como preparação final para a missão. Dia 4 de Maio éramos enviados para a missão em Barcarena, Pará, no Congresso estadual da RCC, por Dom Azcona, bispo da Prelazia do Marajó e Dom Alberto Taveira, bispo responsável pela RCC do Brasil.
Porém eu não segui para Breves, conforme combinado em Brasília, eu só seguiria para a missão em julho, após terminar uma atividade profissional em minha cidade.
Para mim isso foi terrível, pois eu voltei a Vitória, mas meu coração já tinha ficado no Marajó, especialmente em Breves.
Até chegar o dia do meu embarque, eu pude contribuir com a missão a distância, especialmente me comunicando com Virtes e Eloisa pela internet e providenciando algumas coisas que elas necessitavam na missão, como livros para formação e Bíblias.
Sai de Vitória dia 16 de julho às 5 horas da manhã, desembarquei em Belém e após passar o dia com amigos, às 19 horas já estava seguindo para Breves, aonde cheguei antes da 6 horas da manhã do dia 17 de Julho. Fui recepcionado com um café da manhã na casa de missão. Lá, além dos missionários estavam os padres da Paróquia de Sant’Ana, Frei Ronaldo, Frei Paulo e Frei Manoel Fernandes.

Não é fácil chegar ao Marajó no meio do ano, é o ponto alto do verão, não chove, não venta, a umidade acaba com nossas forças e a adaptação é terrível.
Muitas coisas nós fizemos desde então, me juntei aos três aqui presentes e os trabalhos cresciam em dimensão a cada dia. A comunidade de São José Operário já era uma realidade, e dura realidade, um desafio que não estávamos preparados para assumir, mas onde Deus nos capacitou no dia-a-dia.
Desde o inicio da missão em Breves fui sendo chamado às celebrações e as formações, a primeira dessas formações foi de leitores e comentaristas na paróquia, onde durante três meses reunimo-nos duas vezes por semana com um grupo de liturgia de 45 pessoas onde trabalhamos todos os aspectos da liturgia católica.

Minha primeira experiência nas comunidades ribeirinhas foi no Rio Aranai, comunidade Cristo Rei, cerca de 15 horas de viagem de barco. Ali fui com frei Ronaldo participar do encontro de CEB’s Ribeirinhas, onde tínhamos representantes das comunidades de Breves e Gurupá, Prelazia do Xingu. Ali comecei a compreender a necessidade de mudar a formação para as lideranças dos ribeirinhos realizada em Breves, onde eles seguem para a cidade e depois tem que repassar todas as instruções para suas comunidades. Esses lideres comunitários não tem muita escolaridade, não tem sequer uma boa formação doutrinária, vivem quase no abandono. A Igreja ter sobrevivido nessas regiões é uma benção muito grande e muito se deve a religiosidade popular que é repassada pela tradição familiar. Os padres só os visitam uma vez por ano.
A partir daí comecei a traçar com Virtes e Eloisa uma idéia de levar essa formação para o interior, frei Ronaldo começou a se agradar dessa possibilidade até que recentemente aprovamos essa idéia na Assembléia Paroquial, esse projeto leva o nome de São João Batista, pois pretende ir à frente dos padres preparando os dirigentes das comunidades, formadores de catequese, equipe de liturgia, pastorais diversas, além de levar a RCC a ser conhecida nessas regiões e realizar trabalhos sociais junto às famílias.
Outro projeto que me move na missão é levar a palavra de Deus aos ribeirinhos através da rádio. Durante muitos meses eu e Virtes apresentamos um programa na Rádio Breves FM chamado Alvorecer com Cristo, e através da repercussão junto a comunidade pudemos perceber o quanto a rádio tem influência no meio desse povo.
Por isso animamo-nos com a possibilidade de compra da Rádio Marajó AM, acreditando que tendo um canal direto com esse povo poderíamos levar formação, informação, louvor e a doutrina católica para as partes mais distantes do Marajó.

Recentemente participei de uma visita pastoral em 20 comunidades do setor Mapuá, um dos 9 setores da paróquia de Sant’Ana, o dia-a-dia dessa missão está relatado no meu blog http://www.missaomarajo.blogspot.com, é uma experiência que nos converte com o testemunho de pessoas que remam seus pequenos barcos por até 3 horas para participar de uma celebração.
Ao ver essa missão completar um ano, percebo que começamos a dar os primeiros passos e nossos sonhos começam a se tornar realidade.
Já temos uma casa; outros missionários se juntaram a nós; a rádio já nos pertence e em breve estará no ar; a capela de São José Operário é inaugurada exatamente quando completamos um ano de missão; novos grupos de oração são abertos na paróquia, e ao invés de um grupo paroquial e um universitário, temos mais dois grupos nas comunidades e um na matriz para atender aquelas pessoas que não podem participar a noite; por fim, e tão importante quanto os demais sonhos, iniciaremos nosso próprio programa na TV Nazaré onde levaremos louvor, oração, adoração e noticias da RCC e da Missão Marajó para a população, assim realizamos o mandato de nosso saudoso Papa João Paulo II de anunciar sobre os telhados.

Tudo isso me motiva a permanecer mais um ano na missão, na certeza de que muitas bênçãos ainda virão sobre nós todos que somos parte desse novo pentecostes.