domingo, 22 de junho de 2008

38 - Visita aos Ribeirinhos


Domingo, dia do Senhor, 22 de Junho de 2008.

Dei uma pausa nos escritos aqui no blog por um motivo simples, desejo somente escrever coisas da missão lá em Breves, e enquanto estou em vitória para concluir meus compromissos aqui antes de seguir, achei melhor silenciar e rezar pelos meus irmãos que estão na missão.

Porém, tenho dois textos da Elô que gostaria de partilhar com vocês. Seguem os dois na integra, com autorização dela.

Viajamos onze dias acompanhando o Frei Manuel nas visitas em comunidades ribeirinhas do município de Breves. Visitamos 21 comunidades (duas por dia e uma no último dia) do setor Jaburu. No total, são 176 capelas ribeirinhas que recebem a visita do sacerdote uma vez ao ano.
Saímos no dia 26 de maio e voltamos no dia 05 de junho. Praticamente todo esse tempo ficamos sobre as águas do Marajó, ou no barco ou nos trapiches. Em poucas comunidades tivemos a oportunidade de pisar em terra firme. E é ali, em cima daqueles trapiches que o povo ribeirinho vive (aproximadamente 50 mil pessoas no município de Breves).
Estávamos eu, Virtes, Digão, Frei Manolo e Paulo (piloto do barco Santo Ezequiel Moreno – barco da paróquia). Dormimos todos os dias em redes, tomamos banho no barco, o café da manhã era preparado no barco também. Levamos da cidade tudo que era necessário para o café no barco e lá tomávamos café. As outras refeições eram servidas pelas comunidades. Em todas elas eram banquetes (todos com o mesmo cardápio, pois querem agradar o sacerdote).
Em quase todas as comunidades fomos recebidos com fogos e cantos. Em seguida era retirada do barco a imagem da padroeira da paróquia (Sant’Ana), que acompanha o barco. Às 8 horas aproximadamente iniciávamos as atividades na comunidade da manhã rezando o terço, logo depois era dividido: as crianças eram levadas para outro lugar, para cantar, rezar, brincar e para uma catequese básica, enquanto que os adultos ficavam em reunião com o frei, para uma pequena palestra e para conversar sobre como estava a comunidade. Acontecia eleição de dirigentes e revisão das atividades da comunidade. Depois disso, o frei atendia as confissões enquanto nós preparávamos tudo para a Celebração da Eucaristia. Nessa Missa era celebrado tudo: batismos, casamento, primeira Comunhão. Em quase todas as comunidades tivemos batismos (somente duas não); vários casamentos e, proporcionalmente, poucas primeiras Eucaristias.
Todos esses dias foram de uma experiência ímpar para mim. Em primeiro lugar por ver a situação em que esse povo vive. E depois por ver a falta da Igreja nesses lugares. Uma vez ao ano a celebração da Missa! Uma vez ao ano a presença do sacerdote! Uma vez ao ano a possibilidade de receber os sacramentos! Uma vez ao ano!
Enquanto viajamos no barco, eu ia olhando nas casas, na beira do rio: tinha uma pessoa escovando os dentes, 50 metros depois uma mulher lavando roupa, 30 metros depois uma pessoa tomando banho, logo tinha alguém com um balde pegando água pra fazer a comida ou pra beber. Sem contar que poucos metros para dentro são as casinhas para defecar.
Observando as pessoas chegando nas capelas das comunidades, em seus casquinhos (pequenas canoas), com bebês de colo, crianças de 5, 6, 7 anos ajudando a remar. Lembro, em especial, de uma mulher saindo num casquinho com um bebê no colo e mais dois filhos (de, no máximo 8 anos). Ela entrou no casquinho com o bebê e os filhos desataram o nó, empurraram, saltaram no barco e começaram a remar.
Conhecemos algumas catequistas que remam 2 horas contra a maré, sozinhas, para chegar na capela e catequizar. E as crianças também remam para chegar na catequese.
É muita fé que esse povo tem! Viver da maneira como eles vivem, enfrentar todos os perigos que enfrentam para chegar nas comunidades nessa imensidão de águas, recebendo a Eucaristia uma vez ao ano, sem saber direito o que é a Eucaristia. Isso é muita fé!

Texto de Eloisa, missionária da missão Marajó

Um comentário:

Unknown disse...

Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho! Se o fizesse de minha iniciativa, mereceria recompensa. Se o faço independentemente de minha vontade, é uma missão que me foi imposta. Então em que consiste a minha recompensa? Em que, na pregação do Evangelho, o anuncio gratuitamente, sem usar do direito que esta pregação me confere. Embora livre de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível.

1 Cor 9,16-19