segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

01 - “Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir!"

“Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo.”
(Jer, 20,7)

Resolvi hoje, 27 de janeiro de 2008, começar meu diário de bordo, sim de bordo, porque finalmente eu estou a bordo do Projeto Amazônia, Missão Marajó. Eu já era parte dele, não há conflito no pensamento, mas pela minha praticidade com as coisas, acabo sempre aguardando as confirmações para afirmar que faço parte de algo.

Como cheguei até aqui?









Como subi a bordo dessa barca rumo a Prelazia de Marajó?

Não tem nada de racional que explique como uma pessoa que não é ativa na RCC venha a tomar parte de um Projeto da RCC. Logo eu que não sou universitário me uno ao projeto liderado pelo MUR. Quanta contradição.

Em outubro de 2007 eu conversei com Camilla e ela me falou do projeto Amazônia, me interessou, pois havia pouco tempo meu comentário sobre Dom Azcona, pessoa que me tocou profundamente com uma pregação sobre o povo marajoara, e ao acompanhar sua pregação na TV falei para quem estava perto: “um dia vou trabalhar com este homem”.


Sendo assim na conversa com Camilla me parecia a oportunidade que vinha de Deus que ouviu aquele comentário. Ele, na Sua Infinita Misericórdia, resolveu dar uma oportunidade a seu servo que nunca serviu sequer em outra diocese, quanto é bom esse Deus.

Daí recebi aquele inquérito, sim, porque uma coisa que se chama ficha de inscrição não pode ter 16 páginas, isso é um inquérito com certeza. Demorei uma eternidade pra devolver à executiva do projeto a tal ficha, pois anexo a ela devia seguir duas cartas de recomendação, que foram escritas por Débora e Letícia, duas irmãs
que amo profundamente e foram generosas em suas falas a meu respeito. Não sei bem, continuava a pensar que era um estranho naquele ninho, achava que ao ver minha ficha a executiva ia recusar minha inscrição. Nada disso, mesmo sem inscrição, creio que pela intercessão de Camilla, fui aceito no grupo mesmo depois da formação ter iniciado. Finalmente eu estava dentro do PA.

Eram 22 de outubro de 2007, e minha primeira atividade como candidato a missionário foi assistir uma aula magna com Leandro, membro da executiva. Uma explanação sobre o que era o projeto, o sonho de Deus que estava sendo colocado em prática na Amazônia. Na semana seguinte começamos a participar de nosso grupos de partilha via Skype, iniciamos o nosso com camilla, nossa tutora, Virtes, Marcelo, José Yoshitake e eu, faltava ainda a Maria Lúcia, que por motivos pessoais demorou a juntar-se ao gru
po. Porém a chegada de Maria Lúcia não fez aumentar o número de participantes, visto que Marcelo simplesmente abandonou o projeto e não nos falou a respeito.
Não foi difícil desenvolver uma amizade com Virtes, desde então passamos a partilhar quase que diariamente pela internet. Uma amizade também surgiu com José, talvez o contato menor se devesse as poucas chances que tivemos de conversar por um período maior, mas o carinho era o mesmo, simplesmente adotei-o como um amigo mesmo não sabendo se havia tal reciprocidade. Outras amizades vieram e rapidamente, Digão, pessoa que nos transmite uma grande alegria e entusiasmo com as coisas logo me adicionou e pudemos nos tornar bons amigos, em seguia a Vivi, doce criatura, com a qual viria a desenvolver um carinho muito especial durante o retiro de formação missionária.
Esses membros do outro grupo fizeram aquilo que eu tinha muito desejo e não via como iniciativa da formação, a interação com todos os candidatos a missionários, acabei indo ao REFORMI sem ter tido a chance de falar uma palavra com Tai, Maria Inês e Eloísa, achava isso péssimo, não gosto de sentir-me estranho em um grupo, mas infelizm
ente isso foi até o REFORMI.
A formação esteve boa em determinados momentos e deficitária em outros, nada de abalar as estruturas, porém eu cobrava muito da minha tutora, muito mais para que sentisse que o projeto caminhava do que propriamente por interesse no conteúdo que não havia sido entregue a mim. Creio que isso esta na minha natureza, querer ver as coisas fluindo e não admitir qualquer coisa que me pareça marasmo.
Fiz essa longa explanação para chegar à semana que viajei para o REFORMI.
Mas, para que não fiquem dúvidas sobre meu interesse no Projeto, quero deixar aqui escrito que me preparava de maneira bem produtiva para a
missão em Marajó.
Retomei a prática da missa diária em oferecimento ao projeto, comecei a freqüentar academia pensando na necessidade de aumentar a minha capacidade de resistência física para a missão, busquei conhecer profundamente a situação geográfica, social, política e eclesial da Ilha de Marajó e dentro das limitações, em Breves.

Desde a primeira quinzena de dezembro de 2007 pude retomar a missa diária e isso me ajudou a consagrar no sacrifício da missa toda a missão, as pessoas que eu já amava porque conhecia e outra que ainda não amava porque não tive a chance de conhecer. Como membro do Movimento mariano, consagrava todos os dias esse projeto ao Imaculado Coração de Maria, e levava no coração uma parte da consagração que diz “prometo, o quanto me for possível, levar as pessoas com as quais entrar em contato a renovar sua devoção para convosco”, sinto que é uma missão dentro da missão, fazer com que Maria Santíssima seja um elemento de unidade de grupo, seja na casa de missão, seja na paróquia, ou numa pequena casa das regiões ribeirinhas. Pois, onde Maria é amada, Seu Filho é muito mais amado ainda.
Depois de tanto reclamar de perturbar minha pobre tutora, resolvi que entraria totalmente esvaziado no REFORMI, não queria trazer nada. Nem alegria, muito menos tristeza; nem sonhos ou bloqueios; nem nada que pudesse influenciar as pessoas positiva ou negativamente. Resolvi esvaziar-me para poder ser o mais autêntico possível. Minha autenticidade por vezes me causa danos, pois sempre pareço uma pessoa extremamente dura no trato com os outros e nas cobranças que faço para que as coisas de Deus sejam respeitadas como Ele merece. Torno-me realmente uma pessoa chata, preciso me policiar muito por isso.
Resolvi viajar para Brasília na terça-feira, 22 de Janeiro, fui de forma antecipada ao REFORMI pelo desejo de visitar um amigo, César, e partilhar coisas desses 20 anos de amizade. Porém, sendo ele um coordenador de grupo de oração, era óbvio que estaria cheio de atividades, mal sabia que essas atividades me seriam muito proveitosas, já que nessa mesma terça-feira pude participar de um Cerco de Jericó com outras três pessoas do grupo de oração e ali rezamos o rosário, cantamos, rezamos partilhamos e adoramos a Jesus Sacramentado durante três horas.
Na quarta-feira, 23 de Janeiro, César, que me hospedava em sua casa, me convidou para fazer um cenáculo do núcleo do grupo de oração deles, imensa alegria invadiu meu coração, pois é sempre para mim a confirmação da minha missão de ser apóstolo do Imaculado Coração de Maria.
Nessa noite de quarta-feira, quão agradável foi
rezar com aquele grupo, especialmente partilhar a mensagem da Mãe que pedia que aqueles que são responsáveis pela comunidade consagrada, vivam a sua consagração diariamente para servirem de testemunhos vivos para os outros.
Alegra-me saber que esse grupo de oração consagrou o ano de 2008 a Nossa Senhora, isso me faz ter a certeza que eu só vim como apóstolo do Imaculado coração de Maria, confirmar essa consagração.
Quinta-feira, 24 de janeiro, durante o dia fui ajudar na organização da cantina do ENF, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, saímos também para Planaltina em busca de alguns equipamentos necessários para a equipe de trabalho. Em Planaltina conheci o CREVIN, local magnífico que acolhe 34 idosos, obra mantida pela RCC do DF.
Já ao final da tarde tive a graça de conhecer pessoalmente os meus irmãos de formação: Virtes, Digão e Vivi junto com eles o Fábio, à noite participamos da Santa Missa de abertura do ENF, para mim foi uma grande graça ter esse primeiro contato com os outros missionários.
Por volta da meia-noite Fui para o local do REFORMI, uma chácara onde aos poucos fui conhecendo os demais missionários e membros da executiva do projeto.
Quero mencionar a calorosa acolhida que tive de Ana e Eduardo, que abriram as portas de sua casa e de seus corações para o grupo do RE
FORMI.





Sexta-feira, 25 de Janeiro, conversão de São Paulo, foi o dia que efetivamente iniciamos o REFORMI. Pela manhã o primeiro contato com o grupo ainda havia alguma distância dos demais membros da equipe, mas não entre os missionários, entre nós já havia uma interação grande, mesmo com Eloísa, Maria Inês e Clarita, houve uma empatia muito grande, me fez parecer já ter contato com as três anteriormente.
Dentre os momentos de louvor e pregações do dia, quero ressaltar especialmente a palestra da Kátia, pelo simples fato de ver que ela não se importou de colocar os sentimentos mais puros. E também a Santa Missa celebrada pelo Padre Manuel, homem de fala mansa e com grande visão do formador.
No final da noite fizemos um momento cultural muito valioso, onde levamos algo de nossa região, contamos histórias e fatos pitorescos de nossas terras e alimentos próprios de cada região, como não poderia deixar de ser, levei Nossa Senhora da Penha, sua história, a devoção do povo capixaba e uma linda estampa de Nossa senhora das Alegrias, imagem trazida ao Brasil por Frei Pedro Palácios que deu origem a toda essa devoção. terminando o dia com um grande piquenique no galpão de reuniões.



Sábado, 26 de janeiro, dia que figura de São Pedro foi muito forte em nosso meio antes. Tive a graça, Mesmo antes do início das atividades do REFORMI, de rezar o terço com Vivi, Elô e Virtes, onde, por meio do Coração Imaculado da Mãe, pude conhecer um pouco mais a bondade que há na alma da Vivi. Durante a condução do terço senti a necessidade de falar sobre as perdas e reencontros da vida dos que são de Deus.
Partimos em seguida para a nossa oração da manhã ao ar livre, em contato com a natureza, mas ao mesmo tempo em contato com o barulho da grande cidade e dificulta a concentração. Mesmo assim eu sabia que estava vivendo um momento de Tabor, e como Pedro desejei montar tendas para ali ficar contemplando Jesus com a lei e os profetas. Mas uma palavra moveu-me rapidamente desse desejo e era um convite a descer o monte e anunciar aquilo que eu aprendi durante toda minha caminhada. Já não estava mais vazio, a garrafa que é meu ser já estava com uma boa porção da graça, mas não era suficiente, pois a minha oração na manhã anterior era: “Senhor, como o profeta Eliseu eu lhe peço uma porção dobrada de sua graça”.
Por muitas vezes achei que Eliseu era abusado, ele que era discípulo de Elias não se contentaria com o tamanho da graça que Deus concedeu ao profeta, queria em dobro.
Mesmo assim, era esse meu sentimento, de pedir essa porção dobrada.



E essa graça dobrada me foi concedida no decorrer do sábado, a começar ali ainda na oração da manhã quando senti a imensa vontade de testemunhar a Vivi o quanto ela tinha sido importante para mim em dois momentos de oração. Eu que me sinto tão fraco na oração, tão limitado, já tinha vivido dois momentos ao lado daquela menina, nossa pequena mascote, nossa irmãzinha caçula. Vem-me na mente a figura de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, menina simples, talvez a menor de todas e com uma alma imensa. Essa é a Vivi que visualizei nessa manhã, aquele que parece a mais frágil nos revela a alma mais pura e repleta de graça dentre todos que ali estavam. Você não imagina como me fez feliz poder dizer isso a ela diante de todos. E ainda poderia dizer a ela: Vivi, você foi palavra de Deus viva para mim nesse REFORMI.

No transcorrer do sábado pude sentir claramente quais seriam os chamados, mesmo antes das entrevistas eu sentia uma presença forte de Nossa Senhora me mostrando o coração daqueles que seriam enviados à missão. À noite fiquei feliz ao ver que tinha acertado, pois era uma garantia de que não era um desejo meu, mas uma revelação da parte de Deus me mostrando os primeiros missionários em Breves.
O Momento de adoração foi especialmente importante para mim, por causa da palavra que me acompanhou e que coloquei como título desse meu diário, “Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo.” Memo que essa passagem esteja dentro do contexto da queixa do profeta, eu tomei posse dela, aliás, eu me queixo constantemente com Deus também das coisas, então Ele não vai estranhar em nada isso.
Foi bom na adoração ver a minha irmãzinha de partilha e agora de missão, Virtes, se esvaziar completamente diante do Senhor no Ostensório, ela precisava dessa lavagem da alma para libertar-se da angústia que vivia nesses dias de espera. Finalizando a adoração, foi bem legal a compreensão final de que Jesus queria permanecer conosco por mais um tempo e nós o convidamos, como os discípulos de Emaús a permanecer conosco, porém, melhor era nossa situação com relação a eles, pois nossas vistas já não estavam encobertas pelos acontecimentos, pelo contrario, elas estavam muito abertas e a Luz de Cristo nos revelava com clareza o que ele deseja de cada um de nós.

A missa na capela de Maria Mãe do Bom Pastor, título que eu ainda não conhecia, apesar de mariano, foi especialmente agradável, a homilia do padre Manuel foi muito mais profunda do que qualquer palestra que ele pudesse nos dar, pois foi como um encaminhamento para a missão, talvez pudesse chamar de nosso primeiro envio.

Os momentos finais do REFORMI geraram um pouco de tensão em alguns, muita expectativa em outros, e muita tranqüilidade ainda em outros. Graças a Deus fiquei tranqüilo, sabia que se o chamado viesse para mim era o discernimento que Deus havia dado aos responsáveis, porém meu discernimento já estava completo bem mais cedo, na missa, com a graça de Deus recebida em dobro como eu pedi na minha primeira oração com o grupo no REFORMI, oração, aliás, que faz parte do meu cartão com um desenho que pode valer milhões no futuro, pois é uma obra de arte, cartão que não podia ser dado à outra pessoa que não a Virtes, pessoa que mais me aturou durante o primeiro período de formação.

Por fim, conhecemos todos os demais membros da executiva do projeto, foi bom ver os rostos, sentir o abraço e o carinho de cada um junto de nós ali, Que Deus abençoe a cada um desses nossos irmãos que zelam por nós e que Nossa senhora os cubra sempre com seu manto sagrado.
Por fim veio à hora do anúncio.
Todos impuseram as mãos e rezaram por cada um dos missionários individualmente, em seguida todos se retiraram e ficamos a sós os nove candidatos no galpão, não havia percebido, mas esse foi o único momento que estivemos só nós, sem a presença das tutoras, formadores, padre ou qualquer outro. Vejo agora que isso é importante e imagino que nos próximos retiros sejam criados momentos para que os candidatos a missionários partilhem somente eles, que rezem juntos e se esvaziem diante dos demais, assim podemos conhecer melhor a alma de cada um.

Quando fui chamado para fora do galpão para conhecer o chamado eu percebi claramente que meu coração tinha recebido corretamente a mensagem de Nossa senhora quanto aos enviados para Marajó, ali estavam Elô e Digão, me fizeram o convite para estar em Marajó, e no galpão tinha ainda a Maria Lúcia e Virtes, porém eu sabia que se fossem quatro, essa quarta seria Virtes, não mais por um desejo meu, mas porque estava se confirmando aquilo que me tinha sido revelado interiormente. É difícil explicar isso, mas acontece sempre quando rezo meu rosário, não é locução interior, apenas uma coisa que brota e me dá clareza no que falar aos que estão me ouvindo, aqueles que me conhecem um pouco mais talvez percebam isso melhor que eu.

Terminamos o REFORMI ali e começamos agora a missão, e creio que o segundo envio foi na missa de encerramento do ENF, belas as palavras de Dom Alberto, sábias, humanas e divinas, confortou o meu coração e tenho certeza de que também dos demais missionários.

Estou terminando de escrever essa parte do diário na segunda-feira, 28 de janeiro, não iniciei citando o dia na parte de cima para não interromper o resumo desses dias por aqui.
Hoje à noite vou pregar no Grupo de Oração Espírito Santo, em Taguatinga, e amanhã estarei em Goiânia. Mas se algo tiver que ser escrito no diário, eu escrevo depois, de momento é só, apenas para finalizar quero deixar aqui a letra da música que nos acompanhou desde a Missa de abertura do ENF, durante o REFORMI e foi a música de despedida do ENF. Portanto, a música que nos conduziu que ela seja nossa oração de entrega á missão
.


Alma Missionária

Senhor toma minha vida nova antes que a espera desgaste anos em mim
estou disposto ao que queiras não importa o que seja,
Tu chamas-me a servir


Leva-me aonde os homens necessitem Tua palavra,
necessitem de força de viver
onde falte a esperança
onde tudo seja triste simplesmente por não saber ti

Te dou meu coração sincero para gritar sem medo formoso é Teu amor Senhor,
tenho alma missionária conduza-me à terra que tenha sede de Ti
E, assim eu partirei cantando, por terras anunciando Tua beleza,
Senhor terei meus braços sem cansaço
Tua história em meus lábios e a força na oração

Beto Bernardi

2 comentários:

Unknown disse...

Beto, meu irmão, meu amigo...não tive tempo para ler toda essa maravilhosa obra em sua vida, retornarei aqui com outros comentários após ler tudo, no mais desejo a vc que Deus te ilumine cada passo seu junto aos seus irmãos e que Maria Nossa Mãe esteja te abençoando com o manto protetor...Fica com Deus hoje e sempre...te amo do fundo do meu coração...bjos

Camilla Carneiro disse...

Meu pupilo, gostei demais dessa sua iniciativa!! Já disseo qto estou feliz com esse seu novo tempo!!! Qdo vc chegar em Vitória vou te dar um monte de abraços!! (Aproveitando que a Virtes não vai estar perto!!)

Manda um abração pro Cesar!!! gostei d+ dele!

bjo