domingo, 22 de junho de 2008

40 - O Sonho de Deus


O Sonho de Deus

Deus tem um sonho na vida de cada um de seus amados filhos e, com certeza sonhos diferentes, mas que podem se resumir nessas palavras: “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.” (Mt 5,13)

Como é grandioso o desejo de Jesus Cristo por um mundo pautado numa mistura de gostos e sabores mergulhados no Divino.

Com certeza esse é o sonho de Deus, mas o Sermão da montanha segue e Jesus nos chama a ser “Luz do Mundo”.

A Missão Marajó é uma resposta a esse chamado.

Verdade é que somos a lâmpada, o pavio da vela, a candeia, ou qualquer forma que nos seja possível de refletir ao mundo a verdadeira Luz que é Jesus Cristo.

É tão bom observar a noite em alguns lugares, que quando se acende uma lâmpada, aparece logo um enxame de insetos em volta dela, pelo simples fato de ali existir luz. Como é contagiante a nossa alegria, quando a luz entra em cena num lugar habitado pela escuridão. Aí está a essência da luz - ser sinal da Verdade. Quando a visão ofuscada pela realidade da escuridão, já não consegue mais distinguir os detalhes, as partes; a luz entra.

São tantos lares já sem o tempero da vida, são tantos os caminhos sem luz. É essa a nossa missão. Não sermos somente continuadores do Projeto de Deus, sendo o sal e fazendo a diferença nesta terra. Também tornar-nos Sacramento de Deus para este povo.

A luz em seu singular papel no mundo serve pra iluminar, revelar. E quantos ainda carecem da luz da fé em suas vidas?

Muitos desses nossos irmãos ainda precisam de uma luz pra enxergar que é de Deus que faz brotar a vida, a graça, o dom do Amor que explode em todos os instantes das menores iniciativas de promover a dignidade humana e a paz.

“Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5, 16).

39 - Missão Marajó, por Elô

Domingo, dia do Senhor, 22 de Junho de 2008.

Meus irmãos, segue mais um belo texto da minha amada irmã de missão Eloísa.

Olá, meus amados...

Vamos a mais um capítulo da Missão Marajó!

Voltando da viagem aos ribeirinhos, dormimos uma noite ainda na casa paroquial... (aqui abro um parênteses para explicar: chegamos em Breves e nossa casa ainda não estava pronta, estava passando por uma reforma, então por alguns dias ficamos num centro de retiros e depois fomos pra casa paroquial, onde ficamos morando por quase um mês)... e então no dia 06 de junho nos mudamos pra nossa casa, que é o Centro Pastoral Santa Maria Madalena de Nagasaki.
No início tivemos algumas dificuldades em casa... nada que não pudesse ser resolvido com muita calma. Bom, por enquanto não temos móveis ainda, além de cama e algumas mesinhas improvisadas. Na cozinha temos o necessário (geladeira, fogão, pia). Mas, o problema maior nos primeiros dias foi a água. A questão
é que a água da cidade não é tratada, ela vem diretamente do rio. Tem uma empresa estadual de água, mas ela não faz o tratamento, ela somente distribui a água do rio. E o mais agravante é que na cidade de Breves não tem sistema de esgoto, então toda a água de cozinha e banheiro vai para a terra. E, ainda, um grande problema que acontece é que os canos arrebentam e toda a água das fossas se mistura com a água do rio, que vai parar nas casas, para tomar banho, para lavar louça, roupa e tudo mais. Portanto, pare um pouco e imagine como é a água!!
Por alguns dias íamos tomar banho na casa paroquial, pois não dava
coragem de tomar banho aqui em casa. Mas, logo o problema foi resolvido. Digão teve uma idéia iluminada de captar a água da chuva. Colocaram calhas na casa e estamos captando água da chuva (agora tomamos banho de chuva todos os dias, rs). E isso funciona assim: captamos a água da chuva em uma caixa d`água e temos que levar essa água para a caixa de cima, que distribui a água pela casa. A paróquia tem uma bomba de água, mas nem sempre está disponível pois fica numa escola. Então, já várias vezes levamos a água pra caixa de cima com baldes! Pense no trabalho! Rsrsrs
E ainda mais uma coisa: agora está entrando o verão aqui, portanto, época de seca. Então, faremos como todo o povo brevense que tem caixa de água em casa (muitos deles não têm): receberemos a água que vem da companhia que distribui, trataremos a água com um produto (não lembro o nome) e depois manda para a caixa de cima essa água pra ser usada na casa.
Bom, é muito fácil para nós pensarmos “nossa! Que dificuldade é ser missionário, estar lá tendo de subir escadas pra levar baldes com água para a caixa”. Mas meu coração se enche de tristeza em pensar que esse povo todo vive assim, com essa água. Andando pelas ruas de Breves, uma das cenas mais comuns é nos depararmos com mulheres, crianças e adolescentes carregando baldes de água que vão pegar em poços artesianos. E quando falo em crian
ças, são crianças mesmo de 6, 7 anos carregando baldes de água. Outro dia a senhora que cozinha para a paróquia partilhava que o trabalho dela é assim: ela sai da paróquia por volta das 15 horas, vai pra casa dela e fica em função da água, enchendo a caixa de baixo e tratando com o tal produto pra que no outro dia tenha água em casa.
Peço a Deus todos os dias pra que nos ensine a reclamarmos menos da nossa vida.
Estamos, agora, dando encaminhamento para atividades que pretendemos realizar: oficinas de artesanato para as mulheres, aulas de alfabetização e formações da Igreja. Logo terei mais informações sobre esses projetos.
Na semana passada visitamos mais de 30 crianças desnutridas, que são acompanhadas pela Pastoral da Criança. E um detalhe é que essas crianças são apenas aqui do bairro onde moramos. O coração grita de dor ao ver essas crianças... olhei pra elas e vi lá no fundo dos seus olhos a esperança de uma vida nova. Estamos enviando solicitações de ajuda para políticos que já se disponibilizaram a ajudar. Continuemos em oração por essas crianças.
Graças a Deus temos visto o Projeto Amazônia caminhando em busca da VIDA E VIDA EM ABUNDÂNCIA!
Na paz de Cristo e na alegria missionária!


“SEM DESCUIDAR DOS QUE ESTÃO PRÓXIMOS, TEM QUE IR EM BUSCA DOS AFASTADOS; SUAS PORTAS ESTÃO ESPERANDO QUE ALGUÉM VÁ BATÊ-LA.” (SANTO DOMINGO)



Texto de Eloísa, Missionária da Missão marajó.

38 - Visita aos Ribeirinhos


Domingo, dia do Senhor, 22 de Junho de 2008.

Dei uma pausa nos escritos aqui no blog por um motivo simples, desejo somente escrever coisas da missão lá em Breves, e enquanto estou em vitória para concluir meus compromissos aqui antes de seguir, achei melhor silenciar e rezar pelos meus irmãos que estão na missão.

Porém, tenho dois textos da Elô que gostaria de partilhar com vocês. Seguem os dois na integra, com autorização dela.

Viajamos onze dias acompanhando o Frei Manuel nas visitas em comunidades ribeirinhas do município de Breves. Visitamos 21 comunidades (duas por dia e uma no último dia) do setor Jaburu. No total, são 176 capelas ribeirinhas que recebem a visita do sacerdote uma vez ao ano.
Saímos no dia 26 de maio e voltamos no dia 05 de junho. Praticamente todo esse tempo ficamos sobre as águas do Marajó, ou no barco ou nos trapiches. Em poucas comunidades tivemos a oportunidade de pisar em terra firme. E é ali, em cima daqueles trapiches que o povo ribeirinho vive (aproximadamente 50 mil pessoas no município de Breves).
Estávamos eu, Virtes, Digão, Frei Manolo e Paulo (piloto do barco Santo Ezequiel Moreno – barco da paróquia). Dormimos todos os dias em redes, tomamos banho no barco, o café da manhã era preparado no barco também. Levamos da cidade tudo que era necessário para o café no barco e lá tomávamos café. As outras refeições eram servidas pelas comunidades. Em todas elas eram banquetes (todos com o mesmo cardápio, pois querem agradar o sacerdote).
Em quase todas as comunidades fomos recebidos com fogos e cantos. Em seguida era retirada do barco a imagem da padroeira da paróquia (Sant’Ana), que acompanha o barco. Às 8 horas aproximadamente iniciávamos as atividades na comunidade da manhã rezando o terço, logo depois era dividido: as crianças eram levadas para outro lugar, para cantar, rezar, brincar e para uma catequese básica, enquanto que os adultos ficavam em reunião com o frei, para uma pequena palestra e para conversar sobre como estava a comunidade. Acontecia eleição de dirigentes e revisão das atividades da comunidade. Depois disso, o frei atendia as confissões enquanto nós preparávamos tudo para a Celebração da Eucaristia. Nessa Missa era celebrado tudo: batismos, casamento, primeira Comunhão. Em quase todas as comunidades tivemos batismos (somente duas não); vários casamentos e, proporcionalmente, poucas primeiras Eucaristias.
Todos esses dias foram de uma experiência ímpar para mim. Em primeiro lugar por ver a situação em que esse povo vive. E depois por ver a falta da Igreja nesses lugares. Uma vez ao ano a celebração da Missa! Uma vez ao ano a presença do sacerdote! Uma vez ao ano a possibilidade de receber os sacramentos! Uma vez ao ano!
Enquanto viajamos no barco, eu ia olhando nas casas, na beira do rio: tinha uma pessoa escovando os dentes, 50 metros depois uma mulher lavando roupa, 30 metros depois uma pessoa tomando banho, logo tinha alguém com um balde pegando água pra fazer a comida ou pra beber. Sem contar que poucos metros para dentro são as casinhas para defecar.
Observando as pessoas chegando nas capelas das comunidades, em seus casquinhos (pequenas canoas), com bebês de colo, crianças de 5, 6, 7 anos ajudando a remar. Lembro, em especial, de uma mulher saindo num casquinho com um bebê no colo e mais dois filhos (de, no máximo 8 anos). Ela entrou no casquinho com o bebê e os filhos desataram o nó, empurraram, saltaram no barco e começaram a remar.
Conhecemos algumas catequistas que remam 2 horas contra a maré, sozinhas, para chegar na capela e catequizar. E as crianças também remam para chegar na catequese.
É muita fé que esse povo tem! Viver da maneira como eles vivem, enfrentar todos os perigos que enfrentam para chegar nas comunidades nessa imensidão de águas, recebendo a Eucaristia uma vez ao ano, sem saber direito o que é a Eucaristia. Isso é muita fé!

Texto de Eloisa, missionária da missão Marajó